Impulso e contra-impulso
Nos dois artigos publicados na Folha de São Paulo, de Renato Janine Ribeiro e Andrea Lombardi, que sim, ainda mantém aceso o debate sobre a morte do menino João Hélio, aquela de quem ninguém se lembra mais porque com o fim do Carnaval e o real começo do ano, todo mundo já expeliu sua parcela de gozo e instinto assassino e agora precisa trabalhar e viver a vida, não é mesmo?
P.S.: Quando mesmo que aconteceram os ataques do PCC em SP e outros estados?
domingo, fevereiro 25, 2007
Ata de Reunião
"Não se acham mais veados de 14 pontos como antigamente"
"Não se acham mais veados de 14 pontos como antigamente"
Café com a Confraria é o seguinte: começa por volta das 17h30 e termina meia-noite (às onze, já que acabou o horário de verão), começa no Entreato e vai para a República do Pastel. Nesta aprazível reunião discutem-se:
a) Fiascos e glórias televisivas, das quais as pérolas de Manoel Carlos (partos na Sapucaí, sexo e pórrada), as sutilezas do BBB 7, e as mais incríveis músicas temas de novelas velhas (Trio Los Angeles na abertura de 'Transas e Caretas', essas coisas que todo mundo precisa lembrar);
b) Personalidades marcantes de Florianópolis, reproduzidas com perfeito sotaque manezinho: "É só dar como eu di";
c) Os pontos altos da Sapucaí: inexpressividade de Preta Gil, barraco de Beth Carvalho e Suzana Vieira, e injustiça com a Viradouro;
d) Oscar 2007 - e tudo sobre cinema;
quinta-feira, fevereiro 22, 2007
Dreamlog de Feriado
- Parece piada: sonhei que um avião levava centenas de comissários de bordo (como passageiros) para um congresso internacional de comissários de bordo. A bordo, um amigo meu que vocês não conhecem, não, olhava para os lados esperando que sentasse perto dele algum bofe interessante, mas do lado esquerdo, só um comissário bem velhinho, amuado. Do outro, acabou sentando uma mulher e ele não se interessou. De repente, levanta um comissário uniformizado, todo musculoso e desfia o discurso sectarista: “Bem, já que vocês sabem que nós, comissários do sexo masculino, somos todos gays, então sugiro que as mulheres se sentem juntas, do lado direito, para que possamos flertar uns com os outros”. Nesse ínterim, o comissário velhinho e amuado levanta a mão e pergunta: “e os mais velhos, como ficam?”. O musculoso simplesmente lhe estende um esfregão e um balde e diz: “vocês limpam”.
- Sonhei que caminhava de bengala e morava em Curitiba. Era inverno e eu sentia uma intensa dor no joelho. Passei em frente a um ponto de ônibus e várias mocinhas vestidas de flor apareceram pra dançar em roda comigo, mas a bengala dificultava. Descobri que elas faziam intervenção promocional pra um brechó. Quando acordei, estava deitada de mal jeito e meu joelho doía de verdade.
- Em outro: morava ou estava passando os dias em um apartamento que continha, dentro de si, um outro apartamento. Já sonhei com isso uma vez antes, e nele havia coisas de maior interesse, como meias de lã cor-de-rosa que eu calçava, objetos antigos, entre outras coisas curiosas. O pai de uma amiga me mostrava, da janela deste “inner-appartment”, sua plantação de não-sei-o-quê e como ela estava produtiva. No mesmo sonho, amigas minhas me chamavam para um passeio. Ao destino eu chegaria com a lotação que temos aqui em Porto Alegre, mas o tal veículo era, na verdade, um barco pintado com as cores do micro-ônibus: era o Petrópolis e navegava pelas águas do Guaíba.
- Parece piada: sonhei que um avião levava centenas de comissários de bordo (como passageiros) para um congresso internacional de comissários de bordo. A bordo, um amigo meu que vocês não conhecem, não, olhava para os lados esperando que sentasse perto dele algum bofe interessante, mas do lado esquerdo, só um comissário bem velhinho, amuado. Do outro, acabou sentando uma mulher e ele não se interessou. De repente, levanta um comissário uniformizado, todo musculoso e desfia o discurso sectarista: “Bem, já que vocês sabem que nós, comissários do sexo masculino, somos todos gays, então sugiro que as mulheres se sentem juntas, do lado direito, para que possamos flertar uns com os outros”. Nesse ínterim, o comissário velhinho e amuado levanta a mão e pergunta: “e os mais velhos, como ficam?”. O musculoso simplesmente lhe estende um esfregão e um balde e diz: “vocês limpam”.
- Sonhei que caminhava de bengala e morava em Curitiba. Era inverno e eu sentia uma intensa dor no joelho. Passei em frente a um ponto de ônibus e várias mocinhas vestidas de flor apareceram pra dançar em roda comigo, mas a bengala dificultava. Descobri que elas faziam intervenção promocional pra um brechó. Quando acordei, estava deitada de mal jeito e meu joelho doía de verdade.
- Em outro: morava ou estava passando os dias em um apartamento que continha, dentro de si, um outro apartamento. Já sonhei com isso uma vez antes, e nele havia coisas de maior interesse, como meias de lã cor-de-rosa que eu calçava, objetos antigos, entre outras coisas curiosas. O pai de uma amiga me mostrava, da janela deste “inner-appartment”, sua plantação de não-sei-o-quê e como ela estava produtiva. No mesmo sonho, amigas minhas me chamavam para um passeio. Ao destino eu chegaria com a lotação que temos aqui em Porto Alegre, mas o tal veículo era, na verdade, um barco pintado com as cores do micro-ônibus: era o Petrópolis e navegava pelas águas do Guaíba.
sexta-feira, fevereiro 16, 2007
O Beijo da Mulher-Aranha
Levei gato por lebre
No Carnaval de 1983 eu queria ser a Mulher-Aranha. Do beijo dela, só ouviria falar um ano depois, mas antes eu adorava a idéia de escalar por paredes, de voar pendurada em teias - deve ter sido naquele ano que eu tive um sonho inesquecível, que durante anos achei que tinha sido verdade (e quem disse que não era?), de ter a nítida certeza de ter pulado pela janela do meu quarto, no primeiro andar, e não ter me machucado.
Pois era o bailinho de carnaval do Jardim da Infância (o que faz os passantes verem em plena tarde de quinta ou sexta, crianças andando pela rua vestidas de vampiro, power ranger, superhomem, pirata, odalisca) e eu, claro, estava excitadíssima com a possibilidade de encarnar a mulher aranha - ainda mais por que tinha um menino de olhos azuis por quem eu era apaixonadíssima e que ia se vestir como aquele bárbaro dos Herculóides e eu queria que ele me visse toda bela. Pois batia o pé no chão, pedindo ao meu pai a fantasia da heroína que ele me prometera conseguir.
Não conseguiu. Mas eu só soube disso na hora de me vestir, quando o que ele me entregou nas mãos, na verdade, foi a fantasia do HOMEM-Aranha, pensando lá com seus botões que "deve ser tudo a mesma coisa".
E, que remédio, fui eu vestida de Homem-Aranha, com a cara mascarada, numa pueril ausência de quadris e peitos, embirrada. Tentei ir brincar com as meninas, de boneca, passa anel, pular elástico, mas era rechaçada pelas coleguinhas, que diziam não brincar com meninos. "Mas eu sou a MULHER-aranha! a Mulher-Aranha!" E ninguém me acreditava.
No ano seguinte fui de bailarina e passei glitter e batonzinho. Indefinição sexual, nunca mais. Hoho.
Levei gato por lebre
No Carnaval de 1983 eu queria ser a Mulher-Aranha. Do beijo dela, só ouviria falar um ano depois, mas antes eu adorava a idéia de escalar por paredes, de voar pendurada em teias - deve ter sido naquele ano que eu tive um sonho inesquecível, que durante anos achei que tinha sido verdade (e quem disse que não era?), de ter a nítida certeza de ter pulado pela janela do meu quarto, no primeiro andar, e não ter me machucado.
Pois era o bailinho de carnaval do Jardim da Infância (o que faz os passantes verem em plena tarde de quinta ou sexta, crianças andando pela rua vestidas de vampiro, power ranger, superhomem, pirata, odalisca) e eu, claro, estava excitadíssima com a possibilidade de encarnar a mulher aranha - ainda mais por que tinha um menino de olhos azuis por quem eu era apaixonadíssima e que ia se vestir como aquele bárbaro dos Herculóides e eu queria que ele me visse toda bela. Pois batia o pé no chão, pedindo ao meu pai a fantasia da heroína que ele me prometera conseguir.
Não conseguiu. Mas eu só soube disso na hora de me vestir, quando o que ele me entregou nas mãos, na verdade, foi a fantasia do HOMEM-Aranha, pensando lá com seus botões que "deve ser tudo a mesma coisa".
E, que remédio, fui eu vestida de Homem-Aranha, com a cara mascarada, numa pueril ausência de quadris e peitos, embirrada. Tentei ir brincar com as meninas, de boneca, passa anel, pular elástico, mas era rechaçada pelas coleguinhas, que diziam não brincar com meninos. "Mas eu sou a MULHER-aranha! a Mulher-Aranha!" E ninguém me acreditava.
No ano seguinte fui de bailarina e passei glitter e batonzinho. Indefinição sexual, nunca mais. Hoho.
domingo, fevereiro 11, 2007
Drops Musicais
Melodia linda e letra singela dão a tônica do projeto Lavadeiras, disponível no My Space. Parafraseando Pirandello, Gedley e Lina são "dois autores à procura de um produtor". Destaque (meu) para "Desassossego" e "Namorando o ar", de uma beleza meio melancólica que remete a brisas de mar, frutas cheirosas e águas cristalinas.
A quem mais além da banda Trash Pour 4 ocorreria transformar "How deep is your love", dos Bee Gees em uma valsinha, "Take on me", do A-ha, em uma charmosíssima bossa-nova, "Sufoco", da Alcione, em uma frenética rapsódia russa e a breguéééérrima "Total Eclipe of The Heart", da Bonnie Tyler, em um surreal reggae?
Baixe, compre, ou ouça um preview no próprio site do grupo.
A rádio UOL também tem os dois discos completos do quarteto pra ouvir online.
Melodia linda e letra singela dão a tônica do projeto Lavadeiras, disponível no My Space. Parafraseando Pirandello, Gedley e Lina são "dois autores à procura de um produtor". Destaque (meu) para "Desassossego" e "Namorando o ar", de uma beleza meio melancólica que remete a brisas de mar, frutas cheirosas e águas cristalinas.
sábado, fevereiro 10, 2007
Violência(s)
Como dar opinião segura a respeito de rapazes que cometem crimes hediondos e parecem cometê-los sem um traço de culpa ou sequer noção de que o que fazem é monstruoso?
1. Pena de morte. Óbvio. Que pessoa não diria que o mínimo que lhes deveria acontecer é alguém andar com cada um deles pendurado por um cinto de segurança, quicando no asfalto e no carro como um papelão? Eles merecem? Merecem. Mas quem é que merece lhes aplicar a pena capital, ainda que no absoluto cumprimento do dever, e ficar com o remorso de ter tirado uma vida? Um indivíduo que se sujeita a tirar vidas no cumprimento do dever (tal qual pelotão de fuzilamento) e não tem remorso, calcado no tal dever, não estará na verdade encobrindo um desprendimento na hora de matar (sim, eu acho que a crueldade de uma criança pendurada até à morte é muito pior que um tiro frio dado na cabeça de um criminoso)?
2. Semana que passou li uma matéria na ZH falando de um brasileiro, naturalizado americano e soldado do exército no Iraque. Nas palavras da matéria: "Para ele, o grande inimigo hoje é o terrorismo. S* descreve como "boa demais" a sensação de matar um terrorista: - É um alívio, parece que você está limpando a sociedade de pessoas tão ruins, tão sem escrúpulos". Ainda em suas palavras, o soldado fala sobre o ato de matar: "Minha cabeça ficou muito ruim com isso, matar para mim não é coisa de Deus. Então, lá eu entendi o que estava fazendo era meu trabalho, e que essa culpa não poderia cair sob as minhas costas, porque eu era apenas um instrumento de algo que controla tudo isso, o exército americano".
3. Em 2004, em circunstâncias profissionais, estava na frente de um reformatório em rebelião. Chegou um camburão trazendo um dos meninos fugitivos, que passou na minha frente, com uma bandagem ensangüentada na cabeça, carregado aos solavancos pelos policiais. Eu vi, ali, um leão voltando para a jaula. Ele se movimentava e olhava ao redor com uma postura animal, instintiva, selvagem. Tudo à sua volta era um atiçamento com vara curta. E pensei que, sob uma série de circunstâncias, qualquer um pode se transformar num bicho.
Como dar opinião segura a respeito de rapazes que cometem crimes hediondos e parecem cometê-los sem um traço de culpa ou sequer noção de que o que fazem é monstruoso?
1. Pena de morte. Óbvio. Que pessoa não diria que o mínimo que lhes deveria acontecer é alguém andar com cada um deles pendurado por um cinto de segurança, quicando no asfalto e no carro como um papelão? Eles merecem? Merecem. Mas quem é que merece lhes aplicar a pena capital, ainda que no absoluto cumprimento do dever, e ficar com o remorso de ter tirado uma vida? Um indivíduo que se sujeita a tirar vidas no cumprimento do dever (tal qual pelotão de fuzilamento) e não tem remorso, calcado no tal dever, não estará na verdade encobrindo um desprendimento na hora de matar (sim, eu acho que a crueldade de uma criança pendurada até à morte é muito pior que um tiro frio dado na cabeça de um criminoso)?
2. Semana que passou li uma matéria na ZH falando de um brasileiro, naturalizado americano e soldado do exército no Iraque. Nas palavras da matéria: "Para ele, o grande inimigo hoje é o terrorismo. S* descreve como "boa demais" a sensação de matar um terrorista: - É um alívio, parece que você está limpando a sociedade de pessoas tão ruins, tão sem escrúpulos". Ainda em suas palavras, o soldado fala sobre o ato de matar: "Minha cabeça ficou muito ruim com isso, matar para mim não é coisa de Deus. Então, lá eu entendi o que estava fazendo era meu trabalho, e que essa culpa não poderia cair sob as minhas costas, porque eu era apenas um instrumento de algo que controla tudo isso, o exército americano".
3. Em 2004, em circunstâncias profissionais, estava na frente de um reformatório em rebelião. Chegou um camburão trazendo um dos meninos fugitivos, que passou na minha frente, com uma bandagem ensangüentada na cabeça, carregado aos solavancos pelos policiais. Eu vi, ali, um leão voltando para a jaula. Ele se movimentava e olhava ao redor com uma postura animal, instintiva, selvagem. Tudo à sua volta era um atiçamento com vara curta. E pensei que, sob uma série de circunstâncias, qualquer um pode se transformar num bicho.
quinta-feira, fevereiro 08, 2007
De volta ao radinho de pilha
Quando éramos crianças, nos anos 80, nossos pais e mães nos diziam:
- Quando eu era criança a gente não tinha televisão; quando eu era criança a gente ainda não tinha geladeira(!)
Agora temos de dizer às crianças que Playstations, há 20 anos, eram Ataris, que iPods eram grandes walkmans com fita cassete, que máquina de escrever, vejam só, imprime o que a gente escreve na hora.
De modo que penso que, partindo do princípio em que a gente nasce pelado, despir-nos de tecnologia, conforto e referenciais de toda sorte pode ser interessante. Não que isso nos faça necessariamente um bem ou tampouco precise ser expressão de um desnudamento radical (ainda que possa sê-lo para algumas pessoas a quem esse tipo de conforto inerte é algo muito arraigado). Mas não mata ninguém. Não há nenhuma renúncia, nenhum abandono, nenhuma nudez material que não possa ser reiventada, transformada, recriada em uma riqueza totalmente diversa.
E, para alguns, abandonar o conforto – ou qualquer coisa que a essa palavra pode representar – é se dar a oportunidade de evoluir.
Quando éramos crianças, nos anos 80, nossos pais e mães nos diziam:
- Quando eu era criança a gente não tinha televisão; quando eu era criança a gente ainda não tinha geladeira(!)
Agora temos de dizer às crianças que Playstations, há 20 anos, eram Ataris, que iPods eram grandes walkmans com fita cassete, que máquina de escrever, vejam só, imprime o que a gente escreve na hora.
De modo que penso que, partindo do princípio em que a gente nasce pelado, despir-nos de tecnologia, conforto e referenciais de toda sorte pode ser interessante. Não que isso nos faça necessariamente um bem ou tampouco precise ser expressão de um desnudamento radical (ainda que possa sê-lo para algumas pessoas a quem esse tipo de conforto inerte é algo muito arraigado). Mas não mata ninguém. Não há nenhuma renúncia, nenhum abandono, nenhuma nudez material que não possa ser reiventada, transformada, recriada em uma riqueza totalmente diversa.
E, para alguns, abandonar o conforto – ou qualquer coisa que a essa palavra pode representar – é se dar a oportunidade de evoluir.
segunda-feira, fevereiro 05, 2007
Dreamlog indumentário
Em uma loja de roupas, em vez de provadores distribuídos ao longo das paredes, uma espécie de tabuleiro de xadrez em que cada quadrado correspondia a um provador, com sua respectiva cortininha. Todos eles estavam abertos e todos eles ocupados com pessoas que aguardavam sabe-se lá o quê para fecharem os provadores e começarem a se despir. Eu, agastada com a falta de atitude dos presentes, fechei a cortininha em volta de mim e fui a única que se despiu. E antes de experimentar a roupa nova, acordei.
Em uma loja de roupas, em vez de provadores distribuídos ao longo das paredes, uma espécie de tabuleiro de xadrez em que cada quadrado correspondia a um provador, com sua respectiva cortininha. Todos eles estavam abertos e todos eles ocupados com pessoas que aguardavam sabe-se lá o quê para fecharem os provadores e começarem a se despir. Eu, agastada com a falta de atitude dos presentes, fechei a cortininha em volta de mim e fui a única que se despiu. E antes de experimentar a roupa nova, acordei.
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