quinta-feira, janeiro 04, 2007

My creepy little town


A decadente e decrépita Bacia do Mercado

Familiar é o cheiro salobro da maresia que o mar faz fluir através dos canais. As águas de Santos se opõem ao poema do Guimarães Rosa, pois não dormem nunca, exalando sal de suas moléculas, lodosas como um monstro do pântano, vivo e que envolve pneus velhos, barcas carcomidas pela ferrugem, cascos de navios, pés de pato, cadáveres há muito esquecidos, narrando uma história contada no fio da faca que corta tanto cebolas frescas quanto buchos preguiçosos.

Tem de um tanto familiar o medo da grande caixa d'água da avenida Pedro Lessa e das gentes depositadas nos cantos de inspiração cavernosa da praça Iguatemi Martins, vista assim de soslaio numa massa única, num dia chuvoso de colchões encharcados perto das catraias que se destinam a Vicente de Carvalho. A lama entre os dormentes do caminho de ferro do trem que se contorce nos sons metálicos das manobras portuárias. A proximidade imponente do cemitério do Paquetá, bairro outrora nobre e que se tornou um arrabalde das sombras, mesmo à luz do dia onde, em um domingo silencioso e nublado, às vezes grassa a passar um 194 de meia em meia hora, que pelo seu vagar e vazio, lembra um bonde fantasma.

Eu amo o Porto porque ele é sórdido.

3 comentários:

Anônimo disse...

Lindo!

Até mesmo o sórdido pode ser transformado em poesia.

Amo estar por aqui,

Bjos,

isabel alix disse...

Entendo tão bem, minha Nêga. Ô.

Anônimo disse...

Olha aí, nega...

Eu amo o Porto porque ele dá dinheirinho...

Ha,ha,ha,ha,ha,ha...

Um beijo!

Saudade...