quinta-feira, julho 10, 2008

Eu tive um pinto

Não. Não se trata do órgão sexual masculino, extirpado em cirurgia marroquina. Quem conhece a saudosa e festiva Feira de Cães e Cia., que acontecia sempre em SP, sabe que, à criançada toda que passava por lá, era ofertada uma miríade de pintinhos e peixinhos dourados, boiando num aquário improvisado dentro de um saco plástico.
Os petizes viviam em polvorosa por conta do prêmio vivo, precursor orgânico dos vindouros tamagochis. Um dia eu fui com meu falecido pai à feira, em um prédio do século XIX onde funciona a escola Escolástica Rosa, em Santos. Circulávamos por todos os cantos do prédio e busca de cachorrinhos e gatos no que, de repente, entrando em uma sala ameaçadora com um pé direito de uns 5m, vimos centenas de pintinhos soltos, ciscando pelo chão, fazendo titica e piando desesperadamente pela chocadeira de origem. Era um negócio muito triste de se ver.

De modo que eu acabei levando um pinto para casa. Ao contrário dos prognósticos clínicos pouco animadores, ele, sim, o meu pinto, não só sobreviveu como cresceu, ganhando um nome diferente a cada semana. Como eu, aos 8 anos, vivia uma paixão pelo mundo da ciência, já que a mitologia greco-romana eu ainda não tinha aprendido na escola, ele se chamou Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão. Mas nenhum dos nomes pegou: pegou mesmo foi "Niiiiiiiinho", que era a onomatopéia do piado triste do pinto (porque o pinto, minha gente, pia), inventada pela minha mãe. Era um piado triste, vejam bem, porque meu irmão, com 16 anos e a plenitude hormonal que turva a razão, colocava o pinto na geladeira. Pintava o peito do pinto com caneta hidrocor e, um dia, chegou me dizendo que o pinto subiu na privada e caiu lá, não tendo morrido afogado mas quase. Eu não acreditava, claro, e chorava quando ele maltratava o pinto. Enfim.

O pinto foi crescendo, crescendo, virou um frango (ainda que chegasse literalmente a cantar de galo na nossa área de serviço) e foi dado, sob protestos e depressão infantil, à dona Floriza, uma vizinha de bairro, que tinha amplo quintal onde o pobre frango viveu em companhia de seus iguais até sua execução por motivo de alimento.

Niiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiinho!!!

8 comentários:

Cecilia W. disse...

Oi, Lívia!!!
Sempre passo por aqui, mas nunca comentei.
Vi num post mais antigo você falando de bikes, e dos bike repórteres da Eldorado. Pois bem. Também sou ciclista, e por acaso sou prima do Arturo. Tremenda figura, esse cara.
Ele tem um site muito legal, Escola de Bicicleta - http://www.escoladebicicleta.com.br/. Tem também da minha turminha, o Saia na Noite - www.saiananoite.com.br , e o do meu Paizinho, Pedal Cultural - www.pedal.cultural.nom.br (é .nom, mesmo). Ah, claro, sem esquecer os Olavo Bikers, a turma dos velhinhos - http://www.olavobikers.blogspot.com/.
Um beijo, pedale bastante e divirta-se!!
E beijocas no Mercúcio!! Eu tenho 5 que nem ele em casa!

Liv Araújo disse...

Oi Cecília! Obrigada pela visita! Eu não sou uma ciclista muito constante, mas me considero corajosa por às vezes ir trabalhar de bicicleta, rs.
Eu acabei abrindo um blog pra falar do assunto (e não transformar este num blog monotemático), o http://bikedrops.wordpress.com
Legal que és prima do Arturo. Eu conheço o "Escola de Bicicleta" e gosto muito. Venha sempre! :-D

Joelma Terto disse...

Eu sempre quis ter um pinto, o bicho, não o órgão genital masculino.

Na minha infância vendiam-se pintos coloridos na feira. Verdes, rosa(s), azúis. Meus primos ganhavam pintos. Eu não. Mas eles nunca viravam frangos porque morriam apertados e amolegados pela carícia bruta das crianças, tal um conto da Clarice Lispector ou estou enganada? Pois assim era.

Adoro esses posts e tuas histórias triste-felizes de infância. Adoro.

Liv Araújo disse...

Eu lembro de ver história de pintos em uma crônica daquela coleção "Para Gostar de Ler", que reunia o Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Fernando Sabino e o Drummond. Mas pintinhos mortos por carícias brutas tem cara de Clarice Lispector, mesmo.

Um dia te conto de um passarinho azul que tentou entrar na minha casa. Coisa cheia de significado.

Dani K disse...

Me lembrou o Para Gostar de Ler também (e umas tantas outras histórias de pinto que já li/me contaram, todas meio tragicômicas)
Eu nunca tive pinto (dos que piam). Mas tinha uma coelha chamada Juju.

Libertad disse...

Eu já tive pinto e, cara, essa é a melhor história de pinto de todas, rsss. Beijo grande.

Anônimo disse...

Eu nunca tive um pinto. Mas a Maíra me falou desse post ontem e tive que vir ler. Sensacional. Ela tem toda razão, melhor história de pinto da face desta terra. (ô e sim, ainda sou sua leitora, ainda que nunca comente e essa falta de educação e cortesia toda que me caracterizam e etc). Beijos (aparece no twitter!)

RM disse...

o meu realmente subiu na privada, caiu e morreu afogado!!!!! juro que é verdade! haha!
e o outro, meu delicado irmao, com seu delicado pé número 44, pisou nele e o "assassinou"...
faz tempo que nao apareco por aqui! tudo bem?

bjo.