Le Petit Chaperon Rouge
Era sexta-feira, 13 de outubro de 1931. O outono começava a soprar seus primeiros ventos mais gelados e o dia amanhecera nublado. Depois de acordar bem cedo e ter ajudado sua mãe nas lides diárias, Natalie colocou no cesto de vime um belo pão recém-assado, uma compota de confeito de framboesa que havia colhido ainda no início da manhã, alguns brioches e duas toalhas de mesa recém passadas. Tudo tinha um cheiro agradável de carinho. Ela e a mãe, que viviam sozinhas desde que o pai morrera na primeira guerra, tomavam uma série de cuidados com a avozinha, que fazia um ano tinha sintomas de uma doença estranha: começava uma frase e, no fim da frase, já não lembrava o que tinha começado a dizer. Perguntava por Antoine, seu pai, esquecendo-se de que ele morrera fazia anos. Começava a se parecer cada vez mais com uma criança e era por isso que, uma vez por dia, Natalie sempre lhe levava um cesto com víveres e alguma roupa lavada. Para facilitar a vida da avó.
Portanto, no fim da tarde, ela pegou sua capa vermelha, com um capuz, preparada para atravessar a floresta. A mãe, sabendo do risco diário que aumentava com a proximidade do inverno, advertiu a moça, que recém-completara 16 anos:
- Cuidado com os lobos. Se ouvir um barulho na floresta, apresse o passo.
- Oui, maman.
Apesar dos avisos da mãe, e ela sabia que tinha de tomar cuidado, Natalie saíra voluntariosa pelo caminho. Naquela tarde estava disposta a contar à avó seu maior segredo. Como amava muito a bondosa velhinha, sabia que ela não censuraria nada, que a abraçaria, que seria muito mais compreensiva que sua mãe. Não faltava muito para escurecer, mas a garota não resistiu: fez um desvio no caminho e foi bater à porta de uma casa conhecida. Numa fresta de porta surgiu um rosto familiar: o de Mme. Dupré, jovem viúva que morava perto. Natalie e ela haviam se aproximado depois da morte de Monsieur Dupré, não na guerra, mas justamente atacado pelos lobos no inverno passado. Natalie retirou o capuz e Mme. Dupré mais uma vez se surpreendeu em como os lábios da jovem pareciam tão vistosos como as framboesas que colhera naquela manhã, junto com Natalie.
- Marie, hoje vou contar à vovó - disse chapéuzinho, com os olhos úmidos e as faces coradas.
- Não faça isso! Se alguém descobrir, sabe dos riscos que corremos!
- Ela é a única que me entende. Eu não agüento mais guardar esse segredo.
- Vem, então entre um pouco e fique comigo. Acho que essa pode ser a última vez que isso acontece.
Então, com os olhos ainda mais lacrimenjantes, Natalie entrou e se sentou na cadeira da cozinha. Mme. Dupré abriu a cesta e de lá tirou a compota de framboesas. Abriu o pote, pegou com dois dedos um bocado da geléia e se ajoelhou na frente da cadeira. Pela janela, M. Renaud, caçador conhecido na região por sua bravura, via a cabeça de Natalie se mexer, jogando-a para trás, o olhos carbonizados e as faces tão vermelhas quanto sua capa, sob as carícias suaves de Mme. Dupré, infiltradas de framboesa. Debaixo do seu alforje, ele se movimentava numa expressão parecida com a da jovem.
Chapéuzinho continuou seu caminho e, ao se aproximar da casa de sua avó, encontrou a porta entreaberta, e um lobo morto no chão. A garota se assustou e correu para os braços da avó, calma, deitada na cama.
- Vovó, o que aconteceu? - perguntou a jovem, sobressaltada.
- Um lobo entrou aqui e M. Renaud o matou e foi embora. Está tudo bem, querida. Por que não trouxeste teu pai?
- Oh, papai... papai não pode me acompanhar hoje. - Natalie estava penalizada com a doença da avó, mas não podia se furtar de lhe contar o que sentia. - Vovó, preciso te dizer uma coisa. Promete que não ficarás braba comigo?
- Claro que não, minha querida. - M. Renaud já me contou tudo. Sei que vocês se amam e, como ele é um bom homem, tenho certeza de que cuidará bem de ti.
Nos olhos de chapéuzinho, um raio de desespero.
- O que, vovó? O caçador? Nós não... eu não entendo.
Nisso, o caçador entra no quarto.
- Sua avó foi a primeira a abençoar nosso casamento. E também será a última. - E atingiu a cabeça da velha senhora com um tiro da mesma espingarda que matou o lobo. - Diante do grito de Natalie, o homem continuou.
- A gente vai levar uma vida muito feliz, Chaperon, eu, tu e mme. Dupré. Prometes que faremos os três juntos o que vocês fizeram agora à tarde, na cozinha dela?
- Não!, gritou chapéuzinho. A moça tentou fugir, mas o caçador a segurou, levou-a para a cama e a estuprou ainda ao lado do cadáver quente da avó.
4 comentários:
Adorei a história, e achei um final surpreendente. Confesso que fiquei com pena da avó da Chapeuzinho. Pobre velhinha.
Abraço
Bah, adorei Lívia. Adorei muito.
bj
Nossa, que ótema!
Profundamente literária.
A minha favorita.
Beijos com amô.
uma palavra? BAH!
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