Festa Móvel

Canetas vermelhas

Um copo de metal abarrotado de canetas e o ar mais frio de outono que se logrou de carnaval. Ouço sambas melancólicos no rádio cantado por lésbicas igualmente melancólicas (será que seria assim antigamente também?). Todas as canetas do copo são vermelhas, de corrigir prova ou desenhar manchas de sangue no papel. "Nota 2,5. Uma avaliação dessas é praticamente um genocídio". Vou pegar uma dessas canetas e passar a corrigir tudo o que estiver à volta, desencaixado do que eu penso perfeição: à frente daquela gente de plástico, desenho uma fogueira que derreta a camada (ao contato com o fogo o plástico sempre fede) colorida e sempre brilhosa. No bar, faço um corte no zero da nota de cinqüenta e vejo como aquele bêbado idiota vai se virar pagando 15 rodadas de chope com cinco reais. Desenho flores no meu escritório e, bem, uma focinheira para a chefe.
Ao chegar em casa, me tatuo das promessas nunca cumpridas.