terça-feira, junho 28, 2005

A única casa acesa

A quadra ficou toda escura e silenciosa diante da queda de uma árvore. Uma literalidade forçada pelo perigo de curto-circuito que forçou o desligamento da eletricidade. Lá embaixo, na rua, durante uma hora só se viam os faróis acesos dos carros que vinham sem saber o que acontecia, olhos amarelos daqueles que revelam os próprios olhos dos gatos imersos nas sombras. Quando o sinal era vermelho, só se via o pisca alerta alaranjado da caminhonete da companhia de luz e um homem, com uma lanterna que mal lhe iluminava, trepado no poste, cortando com um machado os galhos da árvore morta.
A rua era úmida de chuva recente e pessoas acediam às janelas e sacadas para descobrir o motivo do apagão, que já não era mais uma ameaça iminente desde 2000, 2001...
Enquanto isso, iluminada por uma vela aromática que ganhara de presente e nunca usava, ela descobria novos ângulos bruxuleantes, novas cores para a pele, novos pretextos para o ataque e, nos 60 minutos seguintes de reparos na rede elétrica e com a facilidade do silêncio geral, os vizinhos ouviram uma sinfonia de prazer igual a de gatos que passam noites de lua cheia fodendo no telhado.

Nenhum comentário: