segunda-feira, dezembro 07, 2009

O cinema e a educação sentimental

Não no ostracismo, mas em parte cultivando um certo isolamento, o cinema tem me proporcionado, em poucos dias, mostras das emoções humanas que têm dialogado com o que eu tenho experimentado nos últimos anos. Claro que, dentre estes, assisti algumas porcarias (tipo Jean-Claude Brisseau, que pra mim revisita a pornochanchada mas sem o charme do David Cardoso), mas, no balanço, a franca fraqueza humana presente nos seguintes filmes nem me deixou entristecida, ainda que não tenha restabelecido minha fé na humanidade. O resumo da ópera, inclusive olhando para my own-private umbigo, é esperança.
- Amantes
Os protagonistas do filme, personagens do Joaquin Phoenix da Gwyneth Paltrow, são geradores espontâneos de vergonha alheia e, por isso mesmo, tão verdadeiros. Mas o heroi perdidão e crianção tem a sorte de, mesmo confuso na rede de uma paixão vã, mesmo inflamado daquele desejo que só sabemos inútil depois que ele passa, estar cercado de amor. Um amor sem muitos estardalhaços, mas, ao mesmo tempo, o melhor deles. O tipo de amor "Stand by Me", que é o que a gente menos tem hoje em dia, mas que ainda não aprendeu a valorizar.
- 500 dias com ela
O mocinho é fofinho, a mocinha é fofinha, o filme todo é fofinho mas nem por isso a coisa toda é de se jogar fora. Porque é assim mesmo. A gente acha tudo fofo e ensolarado quando ama. A gente acha que tudo é esplendor e aurora, quando não passa de um ocaso que não serve só para nos deixar arrasados e de pijama o dia todo. O pulo do gato está em usar esse ocaso para abandonar nossos resíduos e partir para outra. Não outro amor, só uma nova visão das coisas.
- O Casamento de Rachel
Fui ver ontem à noite (domingo), já sabendo que o filme é pesado, tem climão e que ia acabar com a minha semana. Mas oh, não. Todo aquele constrangimento, aquele sofrimento, aquele passado regurgitado só foram para mim expressão de um desejo intenso de melhora. Não existe transformação sem dor (os ossos doem, a dilatação do canal vaginal doi, o peeling doi, a vertigem ao atravessar uma ponte é arriscada e desconfortável) e amor sem a incompreensão abarcada. Ademais, o vertiginoso feriadão matrimonial de Kym, irmã da noiva, marcou seu processo ultraconcentrado de evolução, que consegue deixar de lado algumas das suas culpas para investigar o passado com mais franqueza e tendo a coragem de expressar uma mágoa muito justa, apesar de todas os erros gravíssimos que ela cometeu.

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