Dizem que a exposição Corpo Humano: Real e Fascinante, que está percorrendo o Brasil e está nos seus últimos dias aqui em Porto Alegre, não é de assustar os mais impressionáveis. Como os diversos recortes dos cadáveres chineses que, ainda em vida, doaram-se à ciência, foram polimerizados (plastificados, a grosso modo), tudo aquilo parece que não é com a gente. Mas é. O mérito dos corpos plastificados não é substituir um modelo feito em resina, mas sim mostrar as diferenças que cada corpo apresenta em seus órgãos internos, o efeito das doenças no organismo, as peculiaridades anatômicas etc.
A maioria das pessoas passa, sem grandes emoções, pelo exame minucioso ao incrível sistema circulatório, pelos pulmões saudáveis e atacados pelo câncer e só treme na base - assim supõe a curadoria da exposição, que anuncia um "é por sua conta e risco" - no espaço reservado aos fetos, que mostra bebês em diferentes estados do crescimento intrauterino. Os fetos, esses, me deixaram encantada, tanto pela rapidez com que dobram de tamanho dentro da mãe, quanto pela fragilidade de sua estrutura, mãozinhas e pezinhos, ossos ainda desarticulados, uma aparência quase translúcida flutuando no líquido amniótico.
O que me impressionou, mesmo, e me abalou, foi ver, nas laterais dos recortes, ou nas traseiras das peças, toda a riqueza de detalhes que faziam daqueles "exemplares" expostos indivíduos humanos, quando em vida: uma ponta de nariz com alguns cravinhos, os poros da pele das costas, os pêlos do nariz e das orelhas, sobrancelhas, o couro cabeludo raspado de homens e mulheres, um detalhe de mão calejada de um possível lavrador. Ali, em meio às vísceras expostas, aos corpos arreganhados em sua concepção mais radical e profunda, o que me emocionava era pura e simplesmente o lado de fora.
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