segunda-feira, setembro 29, 2008

Cultura de almanaque

Sonhos, sonhos são: meu pai morto é vivo nas manifestações do meu inconsciente já que, para ele, passado e presente são uma coisa só. Quem disse? Freud? Se sim, se não, Zé Gouvêa o descobriria ao procurar o verbete na letra F do Dicionário Lello, um volume ilustrado em uma edição de, sei lá, 1930, pela Livraria Lello & Irmão, do Porto, Portugal, considerada a 3ª livraria mais bonita do mundo, segundo pesquisa do jornal inglês The Guardian.
Enfim: a questão era que, mesmo em plenos anos 80, a chave para o conhecimento do mundo, quiçá uma emulação da árvore do bem e do mal, era, em detrimento do atualizado Almanaque Abril, o dicionário Lello dos anos 30. É claro que isso deixava mãe, irmão e eu mesma irritadíssimos, por ele tomar por fidedigna uma referência que, de exata, só tinha a nostalgia, já que as próprias imagens eram desenhos a bico-de-pena, coisa que Zé Gouvêa também prezava. Mas, pensando bem, a confiança do pai em José Pinto de Sousa Lello e em seu irmão António não sobreviveria aos tempos de internet, onde grassam tanto o falso como o verdadeiro, mas quase nunca o antigo, o que não deixa de ser um pouco triste.
Talvez o que mais deixe saudades era a convicção teimosa de que, claro, qualquer informação de que ele necessitasse estava nas páginas do Lello.

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