O nome dela é Lilica. Ela tem cerca de 6 meses, caninos já nascidos e é fruto do amor de uma fêmea de Galgo com um fox-paulistinha tarado. É uma cadela elegante, amorosa e civilizadíssima, que economiza nos latidos e é paciente quanto à colocação de roupinhas de inverno e tentativas mal-sucedidas de colocação de peiteira.
Lilica estava disponível para doação em Porto Alegre e seria acolhida por uma família em Caxias do Sul. Levada à cidade por mim e pela minha amiga ruiva, Lilica despediu-se com choro canino dos companheiros bassês-hound com quem conviveu provisoriamente por alguns dias. Nas duas horas de viagem até Caxias, ficou quietinha no banco traseiro do carro, ora pousando a cabeça em seu próprio travesseiro, ora ficando de pé para olhar a paisagem, sempre em silêncio mas com uma adorável cara de desconfiada. Ao chegarmos lá, a desconfiança da bichinha se concretizou, pois a família, desejosa de um cachorro pequeno, não gostou do tamanhão avantajado (mas esguio) do Galgo e manisfestou a 2a. rejeição da vida da pequena (a primeira foi depois que os filhos de uma senhora inesperadamente hospitalizada, que a levava passear de Peugeot, não quiseram, além da mãe, cuidar também da cachorra). Com conhecimento do fato e pouco dispostas a enfrentar duas horas de viagem de volta a Porto Alegre, passamos a sondar conhecidos e amigos sobre a possível vontade de acolher uma amiga de quatro patas. Na casa de uma delas, inclusive, recebeu calorosa acolhida de seus semelhantes, mas os donos não tinham condições de abrigar mais um mascote. Mas nos deram a boa notícia de que a irmã da dona da casa, moradora de Barracão-RS, aceitaria ficar com a filhote. E aí vem o diálogo:
- Bem, agora a gente vai ter de levá-la a Barracão.
- E quanto tempo até lá?
- Uma hora e meia, mais ou menos.
- Caramba, já não bastaram as duas horas desde Porto Alegre...?
Mas, tomadas de pena da cadelinha e empatizando com a dor das rejeições anteriores, voltamos ao carro, com mais dois companheiros e a Lilica no banco de trás, e tocamos rumo ao norte do Estado.
Qual não foi a surpresa, não tendo olhado mapas nem pego maiores informações, que Barracão não fica a 1h30 de distância de Caxias: fica a 4h30. Passamos, portanto, por São Marcos, Vacaria, Lagoa Vermelha, Cacique Doble (tomando cuidado com a presença de uma reserva indígena à beira da estrada), São José do Ouro e, depois de uma estrada assaz esburacada, Barracão.
Chegamos à noite, comemos pinhões à beira do fogão à lenha e tomamos sopa de capeletti. A nova dona, a Neide, ficou encantada com o jeito da bichinha, que farejava tudo à sua volta e que encantou-se, por sua vez, com os periquitos e canarinhos no quintal e refestelou-se na poltrona, sentindo o calor do fogão.
Desistindo de passar a noite tanto na casa da Neide quanto no estabelecimento que dizia "Hotel e Sorveteria", mesmo porque fazia 5ºC, decidimos tomar o caminho de volta. Na noite chuvosa de sábado, nada de postos de gasolina abertos. Achamos um em São Marcos, com o combustível já na reserva.
Chegamos bem. Soubemos, já no domingo, que Lilica, festiva, acompanhava Neide enquanto esta estendia as roupas no varal.
3 comentários:
Folgo em saber que ainda existem pessoas no mundo que não pensam que "é *só* um cachorro".
Obrigada por isso!
ps.: invejinha dos pinhões no calorzinho do fogo.
Ollie,
mas É SÓ um cachorro. E por isso mesmo, por não pretender ser mais nada do que ela realmente é, é que Lilica foi tão notável a ponto de, na viagem de volta, todos sentirmos tanto a sua falta no banco de trás do carro.
Só senti pelo fato de vc não ter postado uma foto dela.
Minha cachorrinha era supostamente fruto de um cruzamento de galgo com paulistinha tb e eu fiquei bem curiosa sobre a carinha da Lilica...
Beijo!
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