quarta-feira, dezembro 19, 2007

Alpiste em flor



O alpiste vinha do mato que ladeava a via férrea, a linha nada imaginária que separava os bairros com ar de cidade do interior dos outros que davam à cidade o caráter conhecido de balneário de verão.
O alpiste era para um coleirinha que também bicava com vontade uma metade de jiló presa em uma das ripas metálicas da gaiola. Alimentou também um cardeal de topete vermelho que pousou na porta da área de serviço e se viu aprisionado, junto com sua beleza, em outra gaiola durante alguns meses.
O alpiste era colhido pelas mãos já idosas do pai e pelas mãos pequeninas da filha, que caminhava sem medo sobre o muro do terreno da ferrovia e, quando se decidia para que lado descer, eram os braços do pai que lhe ajudavam a pousar no chão sem estabaques.
O alpiste não brota mais no terreno da ferrovia, o trem de passageiros não passa mais por lá, o pai morreu, mas a filha, quando sobe no muro, se equilibra como na corda bamba e o que a mantém em pé é tirar forças dos braços amorosos de outrora.

2 comentários:

Bela Figueiredo disse...

oh, dêos, que te fez tão LIMPA assim... chorei.

Cinara disse...

Lindo! Beijos