quarta-feira, agosto 15, 2007

Diálogo Urbano



Banco do Brasil, 15h20, bancada dos envelopes para depósito, vem se aproximando um velhinho distinto, colete de lã, óculos e boininha, mexendo na carteira e resmungando com certo volume:
- Bandidos!... Fascínoras!... Pilantras!....
Continuei ali, preenchendo os envelopes de depósito.
- São todos uns ladrões, Lula et caterva!!
Olhei para ele e sorri, compreensiva, e continuei preenchendo os envelopes.
- Procura-se! Procura-se!
Não resisti:
- O que?
- Procura-se! Procura-se!
- Quem, senhor?
- Procurados, esses ladrões, pilantras, fascínoras!
- Ah, mas é fácil! É só o senhor estender o bracinho, que tem em qualquer árvore, que nem bergamota.
O velhinho, finalmente, desanuviou a carranca e deu umas risadinhas. Finalmente, disse:
- Obrigada, minha filha. Pela atenção.
E saiu andando.

6 comentários:

Anônimo disse...

oi Livia
sempre venho aqui te visitar e depois de ler esse texto..
lembrei que nunca te disse.
adoro o jeito que vc escreve..tao simples, tao leve.

Anônimo disse...

Oi Lívia. Tô assim, cheia de vergonha... Não te dei o endereço do blog novo né? Eu te leio, leio Maíra, mas toda uma preguiça pra comentar. Foram meses ruins, os últimos (mas isso não é desculpa). Enfim. Estou viva e grata por você se lembrar de mim. Beijinhos.

Ollie disse...

Normalmente sou daquelas meio casmurras que não gostam de dar papo a desconhecidos em filas, ônibus, avião, ou qualquer situação dessas.
Ler seu texto me deixou sentindo uma estúpida. Todos só querem isso: atenção. E é de graça, não?

Liv Araújo disse...

Ollie,
é uma coisa rara conversar assim de graça na rua... ainda mais que eu morava em curitiba e me acostumei a ser um pouco mais reservada. Mas aí, melhorei depois que vim pra porto alegre. rs.

Camille,
mas eu te achei mesmo assim. ;-)
Beijinhos.

Anônimo disse...

Inquietante estranheza

Na recepção de um centro de fisioterapia e traumatologia, folheando uma Marie Claire, me detenho numa matéria descrevendo uma cena típica da mulher moderna na Arábia Saudita... mulheres chiquérrimas em suas burcas negras, cobertas da cabeça aos pés, descendo de Audis, Mercedes e afins - com seus respectivos chofers naturalmente - para um dia de compras no shopping mais luxuoso da cidade.E se aproxima então um velhinho muito simpático, com sotaque alemão, e diz num tom professoral e didático: "Focê está lendo ou vendo as figurras?" E eu,apatetada com o inusitado da cena, respondo prontamente: "Estou lendo." E o velhinho: "Não, focê preecisa verr antes os figurras... E depois leerr!

Será que Freud esplica isso?

Liv Araújo disse...

Beth,
acho que nós, concentradas em nossos cotidianos, às vezes deixamos escapar essas pérolas do raciocínio diverso do nosso. ;-) Só pode ser!