sábado, março 03, 2007

I just wanna my pack

No que se transforma a vida de uma pessoa que embarca no delírio temporal do mundo em que vivemos? Algumas delas podem começar, talvez, a achar que o tempo passa cada vez mais rápido. Eu mesma beiro à convicção de que o dia tem menos do que 24 horas, muito embora o sol nasça e se ponha coincidentemente com os mesmos horários em que supomos que ele os faça.

Mas então o que nos dá a impressão de que vivemos uma vida em que não há tempo para nada além de produzir e consumir? É certo que aproveito parte desse ócio de que disponho cerca de quatro horas por dia a escrever em um blog e esse é o lazer que a estrutura social do trabalho me permite ter.

Mas às vezes me sinto de volta aos meados da Revolução Industrial, em que homens, mulheres, crianças passavam de 14 a 16 horas por dia trabalhando, trabalhando, trabalhando. E começo a achar que 8h, na verdade, são quase 16 e que o tempo restante destinado a chorar com a concepção de mundo do Manoel Carlos, a escrever neste blog, a ouvir Daft Punk ao mesmo tempo, a se preparar para imprimir folhas que serão entregues num dia de Domingo em redações de jornal, a ir ao supermercado comprar água envasada em garrafas de plástico fazem parte das mesmas dezesseis horas gastas pelos operários ingleses em trabalhar para seus patrões.

E, por frações de segundo nessas 24 horas desconstruídas, eu intuo que deve haver algo na vida de um indivíduo que não seja apenas produzir e consumir, duas palavras que são, de fato, a mesma coisa.

11 comentários:

Anônimo disse...

Momento filosófico

"O impulso da vida consiste numa exigência de criação. Mas não pode realizar-se em plenitude, porque tem a matéria como obstáculo, um movimento inverso ao seu. Mas apodera-se desta, que é a própria necessidade, e tende a nela introduzir o máximo possível de indeterminação e liberdade."(H.Bergson)

Estou desesperadamente a procura dessa fagulha, desse hiato de iluminação, unica alternativa possível ao universo manoelano.

Bjos e um ótimo fim de semana!

Renato disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Renato disse...

As vezes tambem me vejo perdido questionando a vida automatica e robotica que levamos. Pois nesse emaranhado de segundos nervosos, minutos monotonos e horas apaticas é que mora o grande segredo, o pulo do gato. Fazer dessa mesmice toda o novo, o que nos faz continuar.
Beijo,
PS: Sim, aquela é minha casa.

Anônimo disse...

quais eram aqueles gênios que se negavam a dormir, por conta de não perder horas? sim... eram muitos deles.
talvez seja nosso dever tentar imitá-los.
:)

Alan disse...

Lívia, por vezes me pergunto a mesma coisa. Acho que os dias mereciam ter pelo menos umas 6 horas a mais, talvez pra completar 30, número redondo. E queria que essas horas fossem completamente dedicadas a 'la dolce vita' - academia, jantar 'tête à tête', festa com os amigos, cinema, teatro, etc.
Beijos e boa semana.

Anônimo disse...

Lívia, que voçe no Brasil sinta o mesmo que eu na Galiza demostra que o mundo vai por un caminho errado!
algo ha que fazer

(eu pensava que a vida lá era muito mais relaxada do que cá)

Leandro Sosi disse...

Hehehe agora deu certo, é q o texto não tava aparecendo... mas acho q só deu certo pq tô em outro micro, o meu tá lelezinho da silva...

Muito interessante. Além do trabalho, penso que a quantidade de informação que existe hoje é tão agressiva que a gente acaba perdendo tempo, sem saber. O difícil é selecionar. Já reparou quanto tempo vc leva pra escolher uma margarina? Tem uma normal, a outra sem sal, a outra com leve toque de frescor da brisa vienense, outra com ômega-252 q promete acabar com as rugas a testa... enfim... acho q vou morar na roça, lá não tem nada disso!

Anônimo disse...

A velocidade e a (falta de) profundidade com que nos dedicamos aos vários assuntos nos dão esta impressão de que o tempo passa, mas vazio...triste, mas eu me sinto assim ultimamente.

Alan disse...

Lívia, estou super curioso para ver a foto que você escolheu. Quanto ao layout, pode mudar para o que você achar melhor. O seu blog todo branco, por exemplo, eu acho super legal.
Se quiser, vamos nos comunicar por e-mail – o meu é depaulo_alan@yahoo.com.br
Beijos e muito obrigado.

Joelma Terto disse...

O que eu queria mesmo era gastar parte dessas horas criando algo realmente criativo. Isso: eu queria ser artista.

Sr. Eulálio disse...

Disseste-o bem,(no meu blog) minha cara Lívia. Em verdade somos "nomes" ambulantes, letras ou "sephirats" que vagueiam rumo ao incerto, isso porque buscamos conexões improváveis, dígrafos existenciais que por natureza não são passíveis de transcendência por causa de sua própria natureza dual...

Esquecemos do Verbo... E nos multiplicamos...

Um grande abraço e obrigado pela presença no Blog.

"Zé".