sábado, fevereiro 10, 2007

Violência(s)



Como dar opinião segura a respeito de rapazes que cometem crimes hediondos e parecem cometê-los sem um traço de culpa ou sequer noção de que o que fazem é monstruoso?

1. Pena de morte. Óbvio. Que pessoa não diria que o mínimo que lhes deveria acontecer é alguém andar com cada um deles pendurado por um cinto de segurança, quicando no asfalto e no carro como um papelão? Eles merecem? Merecem. Mas quem é que merece lhes aplicar a pena capital, ainda que no absoluto cumprimento do dever, e ficar com o remorso de ter tirado uma vida? Um indivíduo que se sujeita a tirar vidas no cumprimento do dever (tal qual pelotão de fuzilamento) e não tem remorso, calcado no tal dever, não estará na verdade encobrindo um desprendimento na hora de matar (sim, eu acho que a crueldade de uma criança pendurada até à morte é muito pior que um tiro frio dado na cabeça de um criminoso)?

2. Semana que passou li uma matéria na ZH falando de um brasileiro, naturalizado americano e soldado do exército no Iraque. Nas palavras da matéria: "Para ele, o grande inimigo hoje é o terrorismo. S* descreve como "boa demais" a sensação de matar um terrorista: - É um alívio, parece que você está limpando a sociedade de pessoas tão ruins, tão sem escrúpulos". Ainda em suas palavras, o soldado fala sobre o ato de matar: "Minha cabeça ficou muito ruim com isso, matar para mim não é coisa de Deus. Então, lá eu entendi o que estava fazendo era meu trabalho, e que essa culpa não poderia cair sob as minhas costas, porque eu era apenas um instrumento de algo que controla tudo isso, o exército americano".

3. Em 2004, em circunstâncias profissionais, estava na frente de um reformatório em rebelião. Chegou um camburão trazendo um dos meninos fugitivos, que passou na minha frente, com uma bandagem ensangüentada na cabeça, carregado aos solavancos pelos policiais. Eu vi, ali, um leão voltando para a jaula. Ele se movimentava e olhava ao redor com uma postura animal, instintiva, selvagem. Tudo à sua volta era um atiçamento com vara curta. E pensei que, sob uma série de circunstâncias, qualquer um pode se transformar num bicho.

4 comentários:

Anônimo disse...

Oi Lívia,

Estou sempre chegando atrasada para os comentários,mas é porque às vezes a ficha demora pra cair, e também porque sou meio lerda para pensar e escrever(tenho muitos bloqueios).
Mas a propósito desse crime horrível, dessa violência aterradora da qual toda a sociedade se vê vítima e refém, não me passam despercebidos outros tipos de violência, violências mais sutis,mais refinadas, mais perversas portanto,que são tecidas nas finas malhas do cotidiano - às vezes somos insultados e humilhados com tanta delicadeza, por um tom de voz tão aveludado e cordial,que nem nos damos conta disso. Mas algo se faz presente ali, um mal estar,a sensação de que não somos bem vindos, de estarmos inadequados naquela cena -tudo feito com muita delicadeza e cordialidade, dentro da cartilha do politicamente correto - uma cena que se repete muitas vezes na mídia, em diversos programas e emissoras, mas é a mesma cena: um apresentador se dirige a dois garotinhos, uma dupla sertaneja, e joga essa pérola: "Com quem vocês querem se parecer? (a resposta já está no figurino deles, e no que eles se propõe a fazer) E a duplinha responde:"Com Zezé de Camargo e Luciano. Mas vocês estão querendo muito pouco, hein!" E dá aquela risadinha, seguida do comentário: "Agora mostrem para o Brasil inteiro todo o talento de vocês!"

E aí é que me pergunto: que tipo de sociedade estamos construindo?

Lívia, gostaria muito de um dia ver um post seu sobre esse tema (obviamente você o escreverá muito melhor do que eu) Marcadores: criminalidade, cultura de massas, narcisismo.

Desculpe se o comentário foi extenso, acho que abusei. Mas é porque me sinto tão bem acolhida aqui... Mas estou tomando coragem para criar um blog.

Beijos

Anônimo disse...

Júlia,
ainda bem que te sentes acolhida, pois é muito bem vinda. :-)
Quando conseguir, vou fazer um post sobre o tema... eu ando bastante pessimista a respeito do que nos cerca, sabe? Mas enfim... o que eu quero é poder te ler também no teu blog!
Um abraço.

Anônimo disse...

Pois é.
O problema, sabe, é a burocracia: o carrasco tem que matar quem quer que se lhe apresente. E isso não dá. Uma pessoa não é uma faca, uma pessoa não é um fuzil. Uma pessoa é uma pessoa.

Agora:
Se me dessem a possibilidade de somente executar aqueles que a minha convicção fosse convicta de que mereciam - como é o caso dos assassinos do gurizinho João Hélio -, eu seria carrasca. De vocação.

Porque, sabe, aqui dentro não é tão bonito assim.

Anônimo disse...

Livia,
essa é uma questão complicada...mas certo dia, assistindo um programa desses estilo "mundo-cão", deparei-me com o Jornalista e apresentador do programa Marcelo Resende, e ele, acho que num daqueles momentos de loucura que nos dá, sugeriu: por que não emancipar o menor, sim, e eu pergunto, pois não vi ninguém comentando uma idéia parecida com essa, POR QUE NÃO EMANCIPAR O MENOR MATADOR? Os outros menores continuam menores...
http://forum.terra.com.br/dnewsweb.cgi?cmd=article&group=atualidades.brasil.Opine_sobre_a_maioridade_penal&item=403&utag=&from=menor%20matador