Iogurte
(não leia se for impressionável com palavras sangrentas)
O ser-humano em toda a sua fragilidade
Hoje à tarde me foi dada uma oportunidade de profundo enjôo e reflexão: pude ver algumas das fotos tiradas das 154 vítimas do vôo 1907 da Gol. Só vi duas, na verdade, suficientes para me tirar do prumo. Em uma delas, um corpo revirado parecia dançar um balé desconjuntado: não se via cabeça, braços e pernas estavam fora de alinho, o tronco estava curvado e nessa curva aparecia uma massa avermelhada de vísceras. Parecem aqueles momentos quando crianças sádicas dissecam um gato vivo para ver o que tem dentro.
Considerando-me uma pessoa de estômago suficientemente forte, passei à foto seguinte. Pulando as descrições escatológicas, o que me impressionou mesmo foi o rosto aparentemente intacto de dois passageiros: as bocas abertas, os olhos arregalados, a expressão cristalizada de uma morte brusca e muito, muito violenta. Ocorreu um raciocínio óbvio que me apareceu pela primeira vez há dias atrás: nunca pensava porque era necessário fechar os olhos de algumas pessoas quando elas morriam. E é simplesmente porque eu sempre imaginei a morte como um sono ou descanso eterno, como gostam de apregoar alguns eufemistas. Sendo um sono, nada mais natural que quando ele vem, fechemos os olhos. A verdade é que o que vem é a morte e o corpo perde toda e qualquer função – inclusive a simples função de fechar e abrir olhos.
O homo-sapiens é o mais implacável predador da Terra. Quando se dá conta de quanto frágil é o seu corpo, que nada mais é que um potinho de iogurte com aquela cobertura frágil de metal que costumamos lamber ao retirá-la, treme nas bases. Vida é instante.
2 comentários:
Tua advertência deveria ser outra. Me deprimi primeiro e me animei depois. Agora é só esperar que a euforia dure o instante inteiro.
olha...eu nao vi essas fotos, mas fiquei com o caraaçao dispado so lendo o teu post..
imagino o sofrimento e medo dessas pessoas...
muito triste....
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