sexta-feira, dezembro 02, 2005

Caleidoscópio




Debaixo de luz forte, as horas passavam enquanto gotículas de suor emergiam na pele do homem de óculos que segurava um bisturi com precisão, fazendo incisões exatas e usando com conhecimento a tecnologia que o circundava. Havia outros com ele, como o instrumentador cirúrgico que dispunha de uma bandeja cheia de objetos de metal esterilizado. No ambiente, o bipe regular que mantinha todos tranqüilizados: o paciente vivia, ainda que com o avesso de fora sobre a mesa de cirurgia.
Sobre seu corpo, havia a sombra do cirurgião compenetrado, mas nem tanto que uma parte de sua concentração não pudesse alçar vôo além de toda a assepsia, de toda a responsabilidade dos atos que poderiam resultar em vida ou morte. Como se a parte de trás do seu globo ocular fosse também o lado oculto da Lua. Em alinhamento astral com suas pupilas, lá estavam também à mostra as pupilas do paciente, lubrificadas de lágrima salgada e refletindo, como em um lago tranqüilo, as lâmpadas da sala de cirurgia, que faziam as vezes do sol do fim da tarde. Eram corpos celestes que se alinhavam para um eclipse: aqueles raros, descritos nas efemérides de astrônomos maravilhados.

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