quarta-feira, novembro 16, 2005

O Haiti é ali


Fusion cuisine: carro flambado

Apesar da enfraquecida que os conflitos nos subúrbios das grandes cidades francesas sofreram, acho que a discussão sobre o tema ainda é relevante. Hoje, a Ticcia publicou no Megeras uma entrevista com o professor Alexandre Roche, aqui de Porto Alegre. Esses dias eu conversei pelo msn com o Sébastien, um francês que é filho de togoleses, mora nos arredores de Paris e deu uma idéia (não muito diferente do que temos visto na mídia) do que está rolando por lá, com seu ponto de vista pessoal. Transcrevo aqui parte da conversa.

L: Tudo bem, Sébastien?
S: Ah, estou triste e com raiva pelo que tem acontecido aqui.

L: Sim, ia te perguntar a respeito. Como você vê tudo isso?
S: Todo mundo é responsável. Mas sobretudo os políticos.

L: Entendo. Ouvi falar que a maioria dos veículos queimados pertence aos moradores do subúrbio.
S: Sim, queimaram o carro do meu primo... e eles também queimaram minha antiga escola maternal [um pouquinho anterior à pré-escola]. Não se pode fazer nada, porque é em todo lugar. As pessoas estão impotentes.

L: Que triste, nossa. Mas você crê que esses protestos, por piores que sejam, vão atingir seu objetivo? E, na verdade, qual é o objetivo?
S: Não há nenhum objetivo. Esses jovens se sentem perdidos, e em cólera. Eles se sentem excluídos da sociedade. Não há trabalho para eles. Acho que deve ser mais ou menos aí, com as favelas.

L: É um pouco diferente. Os jovens aqui normalmente acabam entrando no crime.
S: Bom, além disso, o ministro do interior, Sarkozy, tem sido muito mau. Ele provocou os jovens e os insultou. Tudo começou aí. Um erro da polícia que causou a morte de dois jovens. Eles entraram na central elétrica e voilà! Mas a polícia não fez nada, deixou como estava e não avisou ninguém. Mas o que provocou a cólera foi quando a polícia mentiu e, em seguida Sarkozy falou que esses jovens são delinqüentes. É mentira. A polícia, depois, até jogou uma bomba de gás lacrimogêneo dentro de uma mesquista, durante as orações.
O que eu acho mais vergonhoso é que é preciso que os jovens quebrem tudo pra que o governo faça seu trabalho. Vou te contar uma história sobre Sarkozy, pra você ter uma idéia melhor: certa noite, um imóvel incendiou. Sabe, essas casas pra gente pobre: pequenas, sujas e perigosas. As crianças de uma família morreram no incêndio acidental. Quando Sarkozy chegou ao local, a primeira coisa que fez foi perguntar às pessoas que sobreviveram se elas estavam de posse dos seus documentos [de permanência legal no país] e se as crianças mortas tinham seus documentos. Se depender dele, a França se livra de todos os estrangeiros. Ele fez isso, em lugar se dar as condolências às pessoas que perderam seus parentes, ou perguntar como elas se sentiam. Os métodos dele são esses, mas agora ele está mais discreto, porque sabe que cometeu erros.

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