quinta-feira, agosto 04, 2005

Natureza viva

Será que não te reconheço o gosto? Nem me passa pela cabeça que não consiga. Quero morder-te rompendo a pele e a casca e sentindo o sumo sair violento a roçar a minha língua e sensibilizá-la: bem na ponta, sinto o doce dos sorrisos; nas laterais, o salgado das lágrimas e - ai - dos preços das coisas; também ali é que se dá o azedo das brigas. Mas é só mais ao fundo e atrás que sinto o amargor das coisas que não fiz. Isso, porém, se apaga quando te vejo amadurecer na ponta de um galho, amadurecer até rachar. O galho nem nada mais te sustenta e vens cair na minha mão, com o aroma do pleno da estação emanando de ti. Cheiro de terra, de seiva e cor de tudo se misturando aos gritos dos feirantes: é a dúzia da laranja pêra a um real!
E eu te quero e te busco, ah como!

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