quarta-feira, julho 27, 2005

A roda dos dias


Tempo, mano velho. Enganador. Ela não viu julho passar. As semanas correram emendadas umas nas outras e nos fins de semana esmagados no cinzeiro e depositados no fundo do copo, só com nesgas de sol e lembranças estroboscópicas.
Julho passou como um relampago e a única coisa congelada não era o tempo, mas seus ossos, suas lembranças petrificadas no gelo da inatividade. Seu julho não foi o sucedâneo de bandeirolas coloridas, de fogueiras desafiadoras, de doces de infância ou de quermesses de igreja.
Seu julho foi a solidificação dolorida da frase de Claudia Gator: "Now you've met me, would you object to never see me again?", ela pensava ao encontrar cada expressão minúscula de contrariedade: orelha com brinco outra sem, cheiro de salão de beleza, saia que não feminiza, beijo que não excita, hedonismo dessignificante. Contrariedade que talvez só ela enxergasse, mas que tinham seu peso na hora de bater a porta do casulo. Com ela dentro. Fora. Dentro. Acima. Abaixo. Fogo. Gelo. Alegria. Tristeza. Aquela ciclotimia que era sua roda da fortuna.

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