sexta-feira, junho 10, 2005

Histórias de barata

1 - Sete anos: sentada em uma mureta do seu prédio, Catarina viu uma barata cascuda, comprida, que rastejava rápido em direção a ela. Ela ficou hipnotizada e horrorizada olhando aquele artrópode (que até então não sabia se era voador ou não), de pé na mureta, pronta pra pular. Os amigos todos pularam e ela ficou. Quando a barata alçou vôo, Catarina tomou um susto, pulou de mal jeito, quebrou o tornozelo, meteu a boca na quina de um tanque que havia logo abaixo e se arrebentou. Ficou uma semana tomando vitamina de canudinho.

2 - Dezesseis anos: sentada ao balcão de uma padaria às 23h48, Catarina tomava sua Soda Limonada e conversava com seus primos vindos de São Paulo. Não mais que de repente, saltou uma barata cascuda, comprida, que rastejava rápido em direção a eles, por cima do balcão. Não menos que de repente, uma dona de casa bêbada tirou seu tamanco de madeira e esmagou o artrópode que não tivera tempo de voar. Erguendo o calçado, ainda sujo com os restos do inseto, a mulher, cambaleando e com voz pastosa, declarou: "eu dei uma sapatada na barata"! E foi aplaudida.

3 - Vinte e seis anos: saindo de seu quarto, Catarina foi à área de serviço e deparou-se com uma barata cascuda, comprida, que balançava as antenas em sua direção. Com o coração em alerta, a jovem buscou uma vassoura e desferiu oito violentos golpes sobre o artrópode cuja vida ela achava que seria abreviada em breve. O inseto fugiu para debaixo da máquina de lavar e Catarina, ainda trêmula, se regozijou antecipadamente pela lenta agonia que levaria a barata ao encontro de seus ancestrais. Foi ler uma revista na sala, voltou, e ao chegar à cozinha, viu a barata, apesar de cambaleante, desafiadora no piso de granito. Catarina foi ao supermercado, comprou um tubo de Rodox e despejou todo o conteúdo em cima do animal. Três horas depois, a barata virou de barriga para cima e morreu.

4 - Vinte e sete anos: Sérgio Henrique estava na cozinha de Catarina, meio trêmulo, mãos suando, coração batendo descompassado. Um minuto antes de ela entrar, ele jogou uma barata de borracha no chão. A jovem entrou e, ao relance da visão do bicho, assustou-se e pulou nos braços dele. Estão casados há cinco anos, mas Sérgio Henrique não deixou dedetizarem o apartamento.

Nenhum comentário: