Da série: posts que eu não postei na hora certa
Omelete noturno. Simples, na verdade, oriundo de uma fome emergente posterior a uma saciedade recente. O corpo desnudo, de costas para mim, descalço e displicente no chão frio, que paciente picava um tomate, um quarto de cebola, dois champignons remanescentes da água fria de um pote há dois dias na geladeira. Curry. Sal. Orégano. Noz moscada ralada na hora, um pouco de parmesão em flocos grossos, dois ovos. Processo com interrupções para cravejar-lhe beijos nas costas. Na minha boca, um gosto de cigarro experimentado na língua alheia, ou teria sido o contrário? E entretanto, na manhã, uma batalha macia de olhares que esperava o surgimento de uma primeira lágrima, prisma de uma luz dividida não em cores, mas em inspirações: carinho, desejo, saudade antecipada, perplexidade, medo e até um pouco de amor. Quando então aquele despertar tinha um tanto de adeus, a mão pegando a outra, a mão pedindo e nada além exprimindo aquela vontade de estar ali, fixa e ao mesmo tempo diluída numa poça de insanidade. Enxuguei minhas lágrimas para fazer-lhe verter outros humores, e eu também, sentia meus olhos carbonizarem aos poucos, queimados, consumidos, ofuscados. Semana. Trabalho. Silêncio...
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