segunda-feira, novembro 08, 2004

Uma versão curitibana de onze horas da manhã de saudade. O corpo dolorido e congestionado de sono – uma coisa assim muito “ônibus”, mesmo. Algumas certezas e incentezas e alegrias e tristezas no coração. Um aprendizado tanto que temo sufocá-lo sob as ignorâncias automáticas do cotidiano.
Ouvi, no conforto cálido de um colo convidativo e macio, histórias sobre um mundo e sobre outras histórias, essas que me deram vontade de não ir embora, apesar da necessidade. Mas de minha própria vida, sei que essas histórias vão ao encontro de seus ecos. Senti, no revolver desordenado das ondas do meu mar interior (eu tenho uma Lagoa dos Patos, amigos meus), um navegar tranqüilo de um barco que sabia de seu destino certo, mesmo açoitado pelas ondas, pelo vento cortante, pelo céu cinzento. O capitão sabe que no fim, céu azul, praia de areia branca. Assim espero também.
Mãos juntas, quadris colados, passos incertos no chão mas a vontade de ter sob os pés as notas de Tommy Dorsey.
Em volta dos meus olhos, não há rugas. O desenho das minhas sobrancelhas, forte e escuro, dá mais contraste à pele branca do rosto que o emoldura. Os olhos, sempre queimados até o último resquício de brasa, olharam tanto que sei nos próximos dias haver imagens intensas que se sobrepõem sobre o pano de fundo da cidade, da casa, da redação, dos textos... até que escorram por entre as fibras desse tecido e passem, elas mesmas, a ser um berço terno, apenas intuído, para as coisas nas quais me concentro. Eu encontrei o amor de uma vida minha, uma fração de um quadro maior. O que até agora sinto, é que os amores de outros meus fragmentos não podem ser costurados para me fazer pensar que tive um só amor e que me valeu. Talvez sirvam para me preparar melhor para qualquer outro furacão que venha e não consiga me varrer.

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