terça-feira, novembro 09, 2004

A tempestade cerebral que me acomete. Como passar o dia inteiro no mar, voltar para casa, deitar-se e sentir o ir e vir das ondas e a pressão da água dentro da cabeça. Como passar horas procurando sites no Google e sentir a velocidade da barra de rolagem, vertiginosa, toda vez em que se fecham os olhos. O excesso de informação que apaga outras tão valiosas do meu cérebro e simplesmente por estarem gravadas, reproduzem-se o tempo todo nas lembranças as quais, por hora, gostaria de descartar. Preciso. Enfim.

Hoje o dia foi passado sobre dormentes de madeira e entre trilhos de aço, estações restauradas e outras abandonadas, vistas abismais em parte encobertas de neblina esbranquiçada, o som das águas das cachoeiras da Serra do Mar. Todo lugar, aliás, tem um “véu de noiva” cuja queda retumba nas pedras. Comi comida de peão, mesa enorme, bancos de madeira, homens simpáticos de mãos sujas, roupas de trabalho, entre mulheres com seu pretensioso esforço intelectual, de ar superior e à parte eu, ares loiros, polaquinhos, que afinal estou na terra deles. Entre esperar, a cada ramal, a passagem de qualquer trem de carga mais prioritário que nosso auto-de-linha, e partir, um sono instalado irradiando do crânio apoiado sobre a mão direita, produzindo sonhos de cinco, dez, vinte minutos. Num deles, cama macia e conversas de olhar... que fazer se ainda ecoam nas paisagens supostas que meus olhos vêem, nada empiricamente?
Estações de trem, para mim, têm um ar quase sempre inglês, mesmo as de interior. As que vi hoje permaneciam erguidas, algumas, em campos verdes onde se viam imponentes araucárias, solitárias no seu 0,4% de mata nativa. Outras, quase despencando pelos desfiladeiros, envoltas pelo ar gelado da manhã que definhava. E a grande ponte aos poucos reconstruída, se em mim estivesse, ligaria nenhum lugar a lugar algum. Ou serviria, apenas, de caminho ao meu trem. Azul.

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