Vivo falando da mãe, aqui, não? Pois é... imagina que bicho dá conviver muito com uma só pessoa numa casa, sem uma terceira pessoa que dê ao menos uma visão diferente... conflitos, conflitos, e em análise, esses conflitos acontecem desde sempre.
No mais, não sei se nesse estado melancólico eu deveria ler O Livro do Desassossego (aliás, gostaria de saber se essa palavra existe em outras línguas, ou só pode ser traduzida como "inquietude", o que não é muito eficiente), mas lá me aparecem algumas coisas que soam como as mais verdadeiras que já li, como o texto de número 94:
"Viver é ser outro. Nem sentir o possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o esmo que ontem não é sentir - é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida.
Apagar tudo do quadro de um dia para o outro, ser novo com cada nova madrugada, numa revirgindade perpétua da emoção - isto, e só isto, vale a pena ser ou ter, para ser ou ter o que perfeitamente somos.
Esta madrugada é a primeira do mundo. Nunca esta cor rosa amarelecendo para branco quente pousou assim na face com que a casaria de oeste encara cheia de olhos vidrados o silêncio que vem na luz crescente. Nunca houve esta hora, nem esta luz, nem este meu ser. Amanhã o que for será outra coisa, e o que eu vir será visto por olhos recompostos, cheios de uma nova visão.
Altos montes da cidade! Grandes arquitecturas que as encostas íngremes seguram e engrandecem, resvalamentos de edificios diversamente amontoados, que a luz tece de sombra e queimações - sois hoje, sois eu, porque vos vejo, sois o que [serei?] amanhã, e amo-vos da amurada como um navio que passa por outro navio e há saudades desconhecidas na passagem."
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