sexta-feira, julho 11, 2003

As coisas vão se desenrolando mesmo que pareçam o contrário. Tudo corre como o ponteiro das horas, vagaroso, quase imperceptível mas transformador. Como as estrelas que se põem como o sol e a lua, mas de tão pequenas, nem lhes prestamos atenção. E é só ao cabo de muitos anos, ou só de alguns, que você percebe se virou um bosta ou ao menos viveu algumas coisas.
Inevitavelmente mudar. Usei uma expressão como essa em um conto (apesar do grande intervalo, poucos foram os contos que eu terminei) de 1999. Não foi uma antevisão mas simplesmente uma obviedade. Eu sabia que ia mudar, só não sabia como nem quanto. Tudo, a partir daquele ano, deixou de ser tão tenro e macio, ao mesmo tempo em que tudo também se agudizou. Eu não sabia que eu era louca (apesar de alguma suspeita no fundo da intuição), nem que me apaixonaria por uma mulher, nem o quanto eu poderia ser oscilante em qualquer coisa que sentisse. Eu também achava (e isso ainda pode ser verdade, mas agora estou longe de acreditar nisso) que eu seria sempre amiga do meu melhor amigo e vice-versa. Não só eu mudei como tudo à minha volta, hoje em dia nada se encaixa nas peças de antigamente, outras coisas se encaixam, claro, mas é só sem parar de tentar montar esse quebra-cabeça é que você consegue encaixar algumas coisas, e quando já está conseguindo encaixar as últimas peças da seqüência que você acha que começou, as coisas já se configuram de outras maneiras, e você tem sempre (sempre) de recomeçar. Por isso é melhor talvez ser líqüido que ser sólido. Será talvez por ser líqüida (embora eu me ache tão dolorosamente sólida, às vezes) que em certas ocasiões acordo sem sentir meus movimentos, e tenho de me tocar, de me mexer, de me molhar o rosto, para que eu perceba que sou de carne e osso e sangue? Vou aonde? A um neurologista ou a um curandeiro? A um psicólogo ou a um padre? Aos livros ou à oração?
Enquanto isso, ao cabo de pouco mais de duas semanas, me pergunto também: estou namorando? Os leitores desta blogueira, tão acostumados (talvez desacostumados há cerca de um ano) às minhas efusivas paixões, a linhas e linhas de cegueira amorosa e entorpecimento sensorial, devem estranhar eu estar namorando sem que eu discorra sobre o quanto isso é bom. É bom, mas é diverso de tudo sentir-se monotonamente segura, sentir-se calcada em uma terra que não treme (ainda) que não se desfaz (ainda). Só que nesse enquanto, não quero outra coisa.

Um adendo: é a primeira vez, também, que alguém de quem julgo gostar nem sabe da existência desse blog. Melhor assim. Detesto saber que alguém acha que pode me apreender.

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