Dominique Blanc nos agarra pelas entranhas e dá à luz, através da plateia, a dor da espera e a dor da chegada e a dor de não reconhecer o que nos é caro. A dor de admitir que, mesmo no papel de quem atravessa, com certa sanidade, anos de privação, são esses os que padecem da demência de não reconhecer o avesso que a guerra torna nossos mais íntimos semelhantes.
Dominique Blanc é quem sustenta e desenvolve o monólogo “La Douleur”, dirigido por Patrice Chéreau, adaptado do livro homônimo de Marguerite Duras e levado ao palco do Porto Alegre em Cena neste ano de 2009. A atriz francesa nos traz, aos dias de hoje, o angustiante e apoteótico ano de 1945, em que as tropas alemãs sucumbiam de cidade em cidade, cada uma delas liberada pelos soldados aliados, em um trabalho doloroso e paciente, amparados, em porões esperançosos e nas ondas do rádio crivadas por mensagens cifradas pelos herois da Resistência.
Ela nos entrega, à plateia, um livro inteiro (ainda que curto), distribuído em seu gestual e dividido em duas partes: primeiro, a longa e angustiante espera por seu marido Robert L., sempre amparada pelo amigo - e, talvez, amante – D., que dura dias insuportáveis ao longo da libertação de cada campo de concentração e da chegada dos trens de prisioneiros deportados que nunca trazem o marido que ela crê morto; depois, o resgate preciso e urgente de Robert L., que retorna a Paris, fazendo toda a angústia culminar num sentimento aterrador que invade sua esposa e seu amigo, dado pelo relacionamento com alguém que já não é, com alguém que se reconstitui, aos poucos, calcado nos fundamentos abalados de seus próprios escombros.
Diante do farrapo humano, como não se reduzir, também se neutralizar? A partir do farrapo humano em cujos olhos enormes nos espelhamos, e mesmo em cujos excrementos depositamos nossas maiores expectativas, é possível nos reconstruirmos a partir daquele zero que é só esperança, que é a pura busca pela reexistência e pelo renascimento. 1945 nos faz encarar o presente, porque, mesmo espelhados nos olhos arregalados dos homens e mulheres que sobreviveram aos campos de concentração com apenas um fio de vida, nos fortalecemos só para repetirmos as mesmas atrocidades nos confins mais variados do mundo, mas também nos centros da civilização, que sempre estará em ruínas e sempre se reconstruirá para beber mais sangue, ao mesmo tempo em que paixões se desenrolam, enquanto amamos e sentimos que amanhã poderá ser melhor.
Dominique Blanc é quem sustenta e desenvolve o monólogo “La Douleur”, dirigido por Patrice Chéreau, adaptado do livro homônimo de Marguerite Duras e levado ao palco do Porto Alegre em Cena neste ano de 2009. A atriz francesa nos traz, aos dias de hoje, o angustiante e apoteótico ano de 1945, em que as tropas alemãs sucumbiam de cidade em cidade, cada uma delas liberada pelos soldados aliados, em um trabalho doloroso e paciente, amparados, em porões esperançosos e nas ondas do rádio crivadas por mensagens cifradas pelos herois da Resistência.
Ela nos entrega, à plateia, um livro inteiro (ainda que curto), distribuído em seu gestual e dividido em duas partes: primeiro, a longa e angustiante espera por seu marido Robert L., sempre amparada pelo amigo - e, talvez, amante – D., que dura dias insuportáveis ao longo da libertação de cada campo de concentração e da chegada dos trens de prisioneiros deportados que nunca trazem o marido que ela crê morto; depois, o resgate preciso e urgente de Robert L., que retorna a Paris, fazendo toda a angústia culminar num sentimento aterrador que invade sua esposa e seu amigo, dado pelo relacionamento com alguém que já não é, com alguém que se reconstitui, aos poucos, calcado nos fundamentos abalados de seus próprios escombros.
Diante do farrapo humano, como não se reduzir, também se neutralizar? A partir do farrapo humano em cujos olhos enormes nos espelhamos, e mesmo em cujos excrementos depositamos nossas maiores expectativas, é possível nos reconstruirmos a partir daquele zero que é só esperança, que é a pura busca pela reexistência e pelo renascimento. 1945 nos faz encarar o presente, porque, mesmo espelhados nos olhos arregalados dos homens e mulheres que sobreviveram aos campos de concentração com apenas um fio de vida, nos fortalecemos só para repetirmos as mesmas atrocidades nos confins mais variados do mundo, mas também nos centros da civilização, que sempre estará em ruínas e sempre se reconstruirá para beber mais sangue, ao mesmo tempo em que paixões se desenrolam, enquanto amamos e sentimos que amanhã poderá ser melhor.
2 comentários:
oi, passei pra conhecer seu blog, e desejar boa tarde
bjsss
aguardo sua visita :)
Nossa, queria muito ter visto essa montagem. O livro é escandaloso e dói mesmo, já leste?
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