Começou com o gato que, em certa noite estival, miava em pé, contra a porta entreaberta, como se houvesse um inseto que caminhasse por ali. Mas não, pelo jeito: bêbada de sono, eu procurava pelo inseto e só enxergava a porta branca e, incomodada pelo miado nervoso do gato, voltei a dormir.
Mas no meio da tarde do dia seguinte, descobri o que apoquentava o bichano: num canto entre a parede, o teto e a porta do armário, repousava uma mariposa de exuberantes asas abertas, amarronzadas, um afresco natural. Feliz, senti-me presenteada: dizem que ver mariposa é sinal de boa sorte. Até hoje a espero, mas me grassa na alma a sensação de um permanente presságio bom.
Tal como a lagartixa da interminável obra de um banheiro - há uns anos - que apelidei Carlinha, tive vontade de batizar a mariposa e torná-la minha, coisa que ela não é. São dela o que os que ela assim elege, embevecidos pela possibilidade próxima de amor, alívio ou fortuna, sabendo que ela irá embora quando sentir fome ou necessidade da luz do dia.
E no entanto ela está ali há dias a fio, causando-me a esperança de que, quanto mais sua presença se alongar, mais ela liberará no ar o perfume de bons augúrios.
domingo, janeiro 25, 2009
Mariposa
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2 comentários:
Lí,
mais uma prova de que pessoas são diferentes, umas das outras. Eu abomino insetos. Insetos provocam em mim o que há de pior, pânico, perda de controle. Mas lendo o seu post me emocionei. E consegui enxergar a poesia, o "afresco". Coisas de quem sonha demais. Obrigada pela nova perspectiva.
Oi Lilly. :-)
Obrigada. O único inseto que eu temo, me dá arrepios, e tudo o mais, é barata. Valha-me Deus. Mas mariposas, borboletas, gafanhotos e congêneres, eu não ligo não. E acho bonito. Já o Mercúcio, adora. ;-)
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