quinta-feira, janeiro 08, 2009

Eu não estive longe



Mas deveria. Era aqui mesmo que eu estava enquanto amanhecia no cemitério Père Lachaise, ouvindo os gritos esparsos dos corvos e sentindo a dentada leve do gato preto, em tom de ameaça, vinda junto com o miado grave que o Mercúcio não tem. Os passos silenciosos, o sol nascendo, os túmulos perdidos, Piaf em silêncio, Henri Salvador singelo sob a terra com a esposa, Oscar Wilde beijado à loucura por batons róseos e Jim Morrison alvo da peregrinação dos poucos visitantes àquela hora.
Eu estive aqui mesmo vendo o casal pétreo penetrando o segredo da morte e ladeado por outras almas amedrontadas com o porvir, vendo a marmórea moça olhando seu cão com amor, divisando uma rosa seca enfiada na mão de uma estátua de bronze manchado.
Os pés cansados contra as pedras do chão, tão doloridos que deixei de os sentir para poder seguir meu caminho. Um sanduíche, um iogurte e um castelo ao fim da linha do metrô.
E estava aqui no porto, nas ruas, no manjericão que morreu sem água, no gato dentro da gaiola, no manjericão novo, num vasinho nas mãos do italiano, que me deu a oportunidade de enraizá-lo novamente...


2 comentários:

Udo Baingo disse...

feliz ano novo

Vica disse...

quero mais fotos