E eu estava no meu quarto, dormindo, e ouvi baterem à porta. Olhei pelo buraco da fechadura: era o meu pai. Aquele que morreu em 2003, o único que eu tinha. Abri a porta e o fiz deitar na minha cama, para descansar um pouco. Na mesa de cabeceira, havia um copo d'água que fazia as vezes de rádio. O 'aparelho' estava sintonizado em uma estação de notícias. Meu pai pegou o copo e começou a balançá-lo e, conforme a água circulava dentro do copo, outras estações passavam pelo dial. Enfim, ele fez menção de tomar a água. E eu: "pai, não faz isso, essa água não é para beber!" Mas ele a tomou mesmo assim. E ficou só um fio de água dentro do copo, com a sintonia comprometida, chiando de estática sem conseguir pegar rádio nenhuma.
Para reparar o problema, peguei um casaco e saí de casa, mas era cedo demais. Ainda estava escuro na rua, e percebi que esqueci a luz do banheiro acesa. Da rua, olhei para a janela iluminada, e nela havia uma plaquinha com a inscrição "Canal 10".
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