terça-feira, abril 26, 2005

Complexidade se aplica a tudo. Desde a estrutura do interior de uma laranja, os desdobramentos das imagens caleidoscópicas, até cada minúsculo fato do cotidiano, cada qual com sua intransferível densidade e peso.
Com a mágoa não seria diferente. Só fui me dar conta da variedade de tipos de mágoa quando finalmente me deparo com um jeito diferente de sofrer. Sempre tudo pareceu que era culpa minha: insistência, imaturidade, tudo isso acabava por forçar o outro, à falta de outra alternativa, me dirigir palavras duras, me trair, ou simplesmente ir embora.
Hoje foi diferente. Hoje não me cabe culpa, ainda que ilusória ou inventada. Cabe simplesmente a tristeza de uma nudez de motivos.
Eu até prefiro que o que não me é caro não fique por perto. Prefiro que o vulgar esteja longe, prefiro que o casual não perdure, que aquilo que se tem de frívolo e bobo fique na superficialidade do acontecimento de raspão. Só que a dor que eu sinto não tem a ver com um objeto frívolo. Pelo contrário, é algo fincado em mim como tal bandeira que não teve vergonha de tremular, é algo enraizado por conta de um semear a quatro mãos. E por isso dói, essa jóia roubada do lugar que lhe cabia. O buraco, o buraco.

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