quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Ócio

Deleitando-me com o volume oito do Café Del Mar, "Any Other Name", do Thomas Newman. Numa hora como essa, de incerteza de tudo e esperança de tudo também (podia ser uma frase de um filme da segunda guerra ou da grande fome da Irlanda, mas é desemprego, apenas isso), às vezes só uma musiquinha sem muita percussão e que remete a mergulhos em mares azul-escândalo de ilhas paradisíacas imunes a tsunamis já ajuda a esquecer que não trabalhar (por falta de escolha) é, às vezes, mais estressante que o fechamento da página principal.
No entanto, que delícia é se dar conta, em plena rua, do quanto ela fazia falta. De ver gente andando por aí na rua de comércio, de ver criança se lambuzando com sorvete de massa cor de rosa, de flanar simplesmente. De caminhar e caminhar a esmo na tarde. Ou mesmo de ficar em casa e ouvir o apito do caminhão de gás (contanto que não seja a maldita livre adaptação de "Pour Élise" em arquivo midi, ou adjacências), ou tirar um cochilo depois do almoço. Se bem todo esse suposto ócio me enlouqueça ao cabo de uma semana.

Esse sentimento de ócio/delícia/preocupação me remete ao meu poeta preferido. Alguém me mandou isso assim que soube das minhas recentes férias forçada e, mesmo sem saber como, me conhece um pouco:

A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!

(Mario Quintana in “A cor do invisível”)

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