terça-feira, novembro 02, 2004

Você intuiu minhas insanidades, meu joelho que range, meus olhos carbonizados. Você intuiu até minhas mentiras. Porque não é possível que eu não minta pra mim mesma.
Eu quero que a terra me engula. Quero derreter nos grãos de terra e virar um vegetal. Preciso de uma renovação de células.
Ou então preciso de rugas no rosto e do tempo que passou. De cabelos brancos e do futuro que escoou na boca de lobo. Preciso dos filhos, netos e dos álbuns de fotografia que atestam nossa infertilidade de imediatismos. Preciso que isso tudo passe, viver a juventude nos seus extremos, porque a morte não tarda a dar o abraço carinhoso, de um carinho que nunca vem nas abreviações.
Mais vinte e seis anos a passar que não passarão mais difíceis que os que passaram até agora.
O ontem atrás do meu ombro é tão recente quanto o amanhã diante dele.
Sou velha um pouco mais que ontem. E espero paciente pelo dia 3 de novembro de 2004 e cada um que virá depois dele.

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