terça-feira, maio 06, 2003

Este não é um blog predominantemente fictício. O nome dele e seu espírito estão ligados a um de meus escritores preferidos, Ernest Hemingway, e seu princípio principal não é levar Paris onde quer que esteja (mesmo porque nunca vivi lá), mas não me perder da juventude que eu ainda tenho, levando-a em mim mesma como o espírito festivo de Paris, cuja lembrança sempre acompanhou Hemingway, ainda que o fim de sua vida tenha tido pouco a ver com a beleza das luzes e o barulho dos cafés, e mais com o rumorejar sombrio das águas do Sena sob suas pontes antigas. A minha melancolia eu trago de outros endereços e de uma vasta memória, de toda a bagagem que carrego em escritos e em expressões, mas também a minha festa ambulante, eu a levo sempre comigo, no castanho de meus olhos quase sempre brilhantes.

O outono então mostrou a ponta do seu nariz, no mar ressacado e no frio que penetra nos meus ossos. Começam as horas agradáveis de se estar sempre no interior de algum lugar, sempre num cinema, num teatro, no apartamento de um amigo, na nossa própria casa, ou até mesmo dentro do corpo/templo, em reflexões, preguiça, reminiscências. Sabe-se lá como será esse inverno sem meu pai, e cheio de caminhos a trilhar. Minha mãe esteve doente durante toda a semana passada, o que me faz pensar que eu, como a desafortunada Tita de "Como Água para Chocolate", esteja fadada a acompanhá-la até o fim de sua vida. Vai saber... eu nunca sei, mas algo me diz que não terei coragem de ir a algum lugar sem que ela esteja junto. Mas, como há quase um ano tenho encarado esse meu cotidiano como algo provisório, não consigo mais me ver pertencendo a esta vida, a este lugar. Sou uma mulher de 25 anos que de repente (mas não foi de repente, acho que os anos anteriores foram um processo que necessariamente culminaria nisto) se vê despida de tudo o quanto lhe fez bem e mal. Levo poucas pessoas na minha mala, ainda importantíssimas, sou um zé-ninguém que se sabe podendo tudo, viver e morrer só na tentativa de moldar pequenas peças aqui e ali. A única coisa que me prende a um mundo que possa chamar de outrora, é minha mãe que sempre quero viva, pela impossibilidade de me ver sem esse laço, de amor profundo e mágoa inconsciente, inerente, penso, a qualquer família.
No fim de semana, festa, alegria, pessoas novas (mas que fazendo parte desse cenário transitório, tento não me apegar demais) e divertidas, acarajé sem pimenta, risadas gostosas. No feriado, uma noite inteira se entregando ao transe de dançar, sendo a última a sair da pista de dança. Amor fraterno do primo com o qual mais me identifico, conversas divertidas com um belo rapaz que tem os mesmos gostos que eu, performático, charmoso e um tanto engraçado.
O meu carinho perdura também por alguém a quem não me prendo por nenhum laço, ainda bem, pelo menos por enquanto.

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