quarta-feira, abril 26, 2006

O quanto o acaso é ao acaso?

A Cinara me perguntou assim: "e como ter assunto pra escrever todo dia?"
A resposta: eu sei lá! Um post, para mim, começa assim quase sempre sem eira-nem-beira, salvas as exceções em que um fato me marca especialmente. Todo mundo comenta sobre os fatos da atualidade (ou ainda que de sua própria realidade) e eu sou alienada até de mim mesma.
Bem, meia-verdade. Toda segunda-feira, há cerca de um ano, eu tento ao menos descobrir a ponta do iceberg da minha educação adestra-macaquinho. E, sinceramente, acho que nessa última segunda-feira, achei a ponta de um iceberg.

Falando em macaquinho, aliás, nesse fim de semana uma cena acabou, de fato, me marcando especialmente. A de um macaquinho tocando piano (sim, respeitável público! Um macaquinho tocando um pianinho Hering!) no filme "Jornada da Alma". Enquanto o gracioso símio executava uma obra ao piano, a psicanalista (e ex-louca. Ex?) Sabina Spielrein desentrelaçava os dedos de um emocionado menininho russo que passou muito tempo fechado dentro do seu mundinho, com os olhos fechados e as mãos entreladas uma na outra. A audiência, na sala, ficou boquiaberta com a cena, talvez chegando à conclusão de que abandonar os próprios fantasmas seja em parte questão de saber que o inusitado do outro pode ser uma inusitação praticada por nós mesmos. Que não há receita, que não há condição que não possa ser diferente. E por isso a segunda foi melhor que a sexta anterior. Tudo na vida pode ser diferente de um chilique óbvio e que se repete em ciclos.

Mas sim. Ter um assunto pré-definido é muitas vezes importante. O acaso acaba trombando, freqüentemente, nos nossos mecanismos aparentemente imutáveis. O quanto desse mecanismo está presente na condução do meu texto, é o que eu ainda não sei.

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