segunda-feira, julho 14, 2003

Ouvindo uma música de Morcheeba ofertada por A., minha querida amiga que, sempre tendo estado longe mim a distância de um oceano, também esteve sempre mais perto do que tanta gente de quem me julgara dependente. Faz sete anos que somos amigas. Isso é estranho mas bonito de se ver. Ela sabe de mim. E nunca se afastou (como sei disso, visto que ela está longe? Sei lá, mas suas correspondências chegam religiosamente na minha caixa). E sempre me buscou... em 14 de agosto fará 5 anos que nos encontramos na aerogare de Lisboa, daquele jeito tão engraçado, eu com as malas retidas em Londres, de mãos abanando, ela com um buquê de flores e a companhia de seu primo e sua irmã e uma promessa silenciosa de uma amizade como poucas ou talvez nenhuma. E ainda que eu não entendesse seu sotaque (só até antes do primeiro porre), creio que nos entendemos muito bem.

Quase sete da noite e acho que daqui a pouco vou assistir a "Dois Perdidos numa noite Suja" (o filme, não a peça, e é com o Roberto Bontempo e a Débora Falabella) no Posto 4, com S., com minha já querida S. É raro eu ter alguém que partilhe ao mesmo tempo do meu corpo e do meu coração, isso já foi dito sobretudo a respeito dos homens, que ou só são amantes ou só amigos, impossível juntar os dois numa coisa só, pelo menos ao que diz respeito às minhas experiências pessoais. O enfim é que ontem pude ter um abraço que alentava minhas tristezas (porque ontem foi dia de tristeza explosiva) e o fato é que esse abraço veio dos braços de uma mulher muito macia, no interior aquecido de um carrinho 1.0, sob uma frondosa árvore de uma rua tranqüila. Chôro e mais chôro, conversa e afagos e fico me perguntando há quanto tempo eu não tinha esse ao menos esboço de porto-seguro.

Sonhei que chorava em um táxi. Certos aspectos dos meus sonhos têm ares extremamente cinematográficos. Vou mais longe e ensaio chamar os sonhos de "cinematografia inconsciente". Chorava no táxi, no banco de trás, enquanto uma mulher que devia ser uma de minhas tias, me dizia supostas verdades que eu não conseguia negar, e eu chorava, pois ainda me pegava apaixonada por J. Eu dizia que não, e realmente não, mas chorava inconvenientemente, pois meu choro me contradizia. Talvez por eu quase nunca tomar táxis, eles acabam me soando como coisa de cinema. Imagino sempre o Cary Grant e a Audrey Hepburn em um táxi de Nova Iorque, com aquele truque de passar uma imagem da cidade atrás do carro pra dar a impressão de movimento. Um daqueles táxis amarelos e enormes.
P.S.: "Dois Perdidos Numa Noite Suja" é dispensável por se passar em Nova Iorque. Os protagonistas até trabalham bem, mas eu não gostei.

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