terça-feira, junho 10, 2003

Post. Hum, deveria ser mais parecido com vômito. Você sente ânsia de vômito em todas as vezes que a vida o golpeia, não exatamente com adversidades ou obstáculos, mas sobretudo com injustiças, puras e simples, vindas daqueles que você ama e que julga também o amarem. Não que você não dê patada nos que ama, infelizmente isso acontece, mas só ressalto que dói bastante recebê-las, sobretudo quando você está longe de alguém, teve um dia difícil, mas na verdade gostaria de compartilhar as suas alegrias simples, porque o dia foi difícil mas também você sabe que no intervalo dessas horas em que trabalhou, correu, resolveu coisas e até teve tempo de sonhar, bem, você sabe que cresceu um pouco, que amadureceu um pouco mais, que se lapidou, ao menos uma fina lasca da pedra bruta que é você. Mesmo que você não tenha sido bem recebido por todo mundo, mas mesmo quando alguém age com uma certa estupidez, você entende que o dia do outro também foi cheio, ou até com muito mais dificuldades do que o seu, e de fato você foi alvo dessa ausência de receptividade, mas mesmo assim, com certa insegurança, pôde relevá-la. Sim, isso é compreensível, isso você até esquece. Mas de repente, a singeleza bamba na qual se sustentava a pouca força que lhe sobrou é aniquilada por uma estupidez que se vale da força hipocritamente hierárquica de um parentesco, e em sua cegueira autoritária, o outro põe a fita no “play” e toca o refrão de seu discurso entranhoso no qual não há muita variação. Você nem chegou a dar olá. Você nem consegue dizer até logo, tamanha é a vontade de que tudo fosse diferente.

Agora é manhã. Um sol que venceu a névoa instaurada na cidade logo que o dia nasceu, que brilha, e eu ouço Caetano cantando “Terra” e daqui a pouco vou escrever. Placidez na cidade sanduíche, depois do choro incontido mas escondido da noite passada. Se houver mato e orvalho e vento gelado, as tristezas parecem menos tristes, e os sonhos parecem mais reais. Continuo reencontrando pessoas, e isso é bom, cada dia receber um abraço de alguém diferente, um abraço que é quase de primeira vez, visto o tempo, um ano quase inteiro, que não via a maioria das pessoas que tenho reencontrado, e elas me reconhecem mesmo de longe, e quando não podem me abraçar, me mandam acenos entusiasmados.
Terminar o post com “Luz do Sol” é algo pra se recostar num tronco de árvore e deixar tudo o que é bom no mundo entrar na gente.

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