quinta-feira, maio 29, 2003

Idéias parecem viroses benéficas que nos acometem... pensei nisso, no que não faz sentido, mas resolvi dizer, ué. Hoje estou meio sem sentido, com a mente dispersa e pensando em inúmeras coisas, em saudade (evocada pelo poema do Borges, "Ausência" e pelos mails matinalmente bem vindos de pessoas queridas), na noite, no amanhã, no meu projeto, e em tantas outras coisas que me fugiram, agora.
Ah sim. Viroses. Já perceberam que quando a gente vai ao pronto-socorro passando muito mal, e ninguém sabe direito o que você tem, dizem que é uma virose? Foi assim com minha mãe, há um mês atrás, o pior é que foi assim comigo, quando tive apendicite (e quase junto com o apêndice, tiraram todo o resto dos meus órgãos, pra doação, já que que o bendito estava supurando e eu não teria muitas horas à frente...rs), ou com tanta gente que foi picada pelo Aedes Aegypti, inclusive eu. Outra constantação que me acomete é que sou exageradamente dramática. Ulalá.
É quase meio-dia, estou olhando para três pôsteres do Toulouse-Lautrec que tenho no meu quarto, da "Tournée du Chat Noir", do "Ambassadeurs" e do "Divan Japonais". O do meio, o Ambassadeurs, eu gosto desde criança, quando nem sabia quem era Lautrec, quando eu me perguntava se todas as pessoas do mundo também faziam xixi e cocô, e eu não sabia que no mundo falavam-se outras línguas (como eu não sabia ler, "Ambassadeurs - Aristide Bruant dans son cabaret" era apenas mais uma das coisas que eu leria um dia - e acabei lendo, porque o francês é minha segunda língua). Eu conhecia esse pôster dele, da seção de outros produtos da revista do Círculo do Livro que minha mãe recebia mensalmente. O azul, o vermelho e o amarelo vibrantes me chamavam a atenção e vejam bem: Lautrec é genial de passar uma mensagem com tanta eficiência, usando apenas as cores primárias. Durante toda a minha vida me lembrarei desse pôster, justamente porque o amei desde que era criança. Outra imagem que me impressionava era o pôster de uma paisagem africana, que mostrava uma árvore seca de galhos à mostra contra um sol poente e avermelhado. Eu ficava com medo, porque aquilo me lembrava a Lua cheia do verão, que nos dias de maior poluição avermelhava-se perto do horizonte. E o nome da imagem era "África", que eu ligava diretamente à música de mesmo nome, de uma banda americana esquecida, chamada "Toto". Tudo aquilo me trazia uma aura de mistério, de fascínio amedrontado... o que faz nunca me arrepender de minha infância, que acho que era instintivamente muito mais artística que a exatidão de minha idade adulta.
Ouf, escrevi demais. Ciao.

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